quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010


A Moura Dinorah
Dinorah, filha de Agar, era uma das mais belas mouras de todo o Algarve muçulmano. Vivia num belíssimo palácio de mil colunas finas de mármore rosa e ventanas de filigrana de madeira, rodeada de coxins de seda coloridas e macias como o roçar de asas de pomba. Jardins de maravilha, onde bailavam exóticas danças flores de todo o mundo, haviam sido plantados para encantar os seus olhos negros. Riachos transparentes saltitavam de calhau em calhau num rumorejar de música constante. E, contudo, Dinorah chorava. Era como se uma tristeza infinda, inexplicável, se tivesse instalado no seu coração. E Dinorah chorava por estar encerrada por detrás da filigrana das ventanas, por ter de sentir beleza no esquadriado dos seus lindíssimos jardins. Dinorah chorava afinal aquela sua solidão irremissível, chorava-se coração para amar sem ter a quem amar. Por isso os seus olhos negros, negros como um céu onde a lua nunca passeou o luar, eram tristes. Numa tarde de Primavera, começavam as amendoeiras a florir, estava Dinorah no seu balcão, passeando os olhos tristes e negros pelo desabrochar da natureza, quando passou um trovador que ao ver tanta melancolia lhe perguntou cantando como a poderia alegrar. E Dinorah respondeu: - Ah, trovador, trovador!...Se me pudesses ajudar, dá-me um véu para noivar… Ouvindo estas palavras partiu o cavaleiro a galope, ficou Dinorah a chorar. Mas mouro com cristão não deve falar e a Alá não agradou este breve instante. Por isso decidiu, logo ali, aqueles dois castigar. Chegou a noite de mansinho e cobriu com o seu manto da cor dos olhos de Dinorah todas as coisas da terra. A essa mesma hora, uma voz dulcíssima, cheia de uma ternura nunca ouvida, soou ao som de um alaúde, cantando trovas velhinhas. E nessa noite Dinorah dormiu tranquila e em paz porque sabia já não estar só. Ao acordar, pela manhã, os olhos negros da moura brilhavam finalmente como se nessa noite a lua tivesse, pela primeira vez, deixado o luar encantar a sua visão. E quando chegou à janela viu acenar-lhe o braço incansável do trovador da noite e tudo, tudo à volta deles eram pétalas brancas de noivar. Estendeu, também ela, o braço para num aceno agradecer mas, neste gesto, viu-se transformar em fonte e o seu trovador mudar-se em lago. Desde então andam juntos a correr para o mar e todos os anos, pela Primavera, Alá manda-lhes as flores de amendoeira para que possam noivar.

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