Lendas do deserto
No topo da montanha, uma árvore solitária chama a atenção da caravana. A lua serve de pano de fundo para seu contorno retorcido. Um dos mais velhos sorri ao ver o quadro inusitado.-Era verdade.O companheiro mais próximo, ocupado em não deixar os animais saírem de fila, pergunta.-Como?-Antes do mundo conhecer o Deus Único e seu profeta, o deserto era habitado por seres estranhos. Os homens, ignorantes, cultuavam essas criaturas como deuses. Era chamados djins e ligavam-se ao seu ambiente. Alguns falavam com o vento, outros com o sol, assim como havia aqueles que se uniam à terra e os que eram unos com as plantas raras do deserto. Espécies diferentes que viviam em paz, segundo regras específicas. Muitas não ficaram conhecidas pelos homens. Mas algumas se tornaram famosas. A mais rigorosa, a que jamais poderia ser quebrada ou desrespeitada era proibindo a mistura dos djins. Cada um deveria permanecer com os seus. Para a maioria deles, era fácil. Cuidavam dos assuntos de seus domínios, pouco importando os demais. Só que, na tribo dos djins das plantas, havia a mais bela entre todos. Seu nome era Astee, e dançava no meio das plantas com a liberdade daqueles que não sabem serem observados. Escondidos da presença mágica da aura de Astee, dois a admiravam. Quren era filho do Vento. Olhava para a moça, e imaginava uma escrava dobrando-se aos seus desejos. O outro admirador da beleza da dama era Silian, que caminhava na terra. Este se embevecia no sorriso de Astee e sentia vontade de acompanhá-la em sua dança. Receoso de quebrar as regras, ficava satisfeito por vê-la feliz.-E o outro?-Os ventos são inconstantes. Não se pode prever seus movimentos ou saber o que estão sentindo. Quren desejava Astee, mesmo sabendo que não poderia possui-la. Decidiu que iria arriscar. Enquanto a doce criatura caminhava em um gramado, saiu de seu esconderijo. Correu atrás dela, levando consigo a força dos ventos, destruindo as plantas em seu caminho. Astee buscou refúgio. Mas ali não havia como se proteger dos ventos enlouquecidos de paixão. Ao ver o desespero de sua amada, Silian não se conteve. Comandou a terra para que se fortalecesse como rochas e protegesse a djin nas encostas rochosas, no entanto pouco adiantou. A fúria do ar aumentava cada vez mais. Em um último sacrifício, Silian juntou sua própria essência à das pedras. E Astee fincou seus pés nas saliências, tentando não ser levada. Quanto mais segurava, mais o ar rodopiava. Reunindo suas últimas forças, transformou-se em uma das plantas que tanto amava. Quren continuou a soprar, entortando seu novo corpo. A força de vontade da djin, combinada com o amor que Silian lhe tinha, resistiram. Os dois uniram-se no meio do deserto.
O caravaneiro olhou novamente. E desta vez pareceu distinguir nas rochas um rosto, e nas curvas da árvore algo feminino.
No topo da montanha, uma árvore solitária chama a atenção da caravana. A lua serve de pano de fundo para seu contorno retorcido. Um dos mais velhos sorri ao ver o quadro inusitado.-Era verdade.O companheiro mais próximo, ocupado em não deixar os animais saírem de fila, pergunta.-Como?-Antes do mundo conhecer o Deus Único e seu profeta, o deserto era habitado por seres estranhos. Os homens, ignorantes, cultuavam essas criaturas como deuses. Era chamados djins e ligavam-se ao seu ambiente. Alguns falavam com o vento, outros com o sol, assim como havia aqueles que se uniam à terra e os que eram unos com as plantas raras do deserto. Espécies diferentes que viviam em paz, segundo regras específicas. Muitas não ficaram conhecidas pelos homens. Mas algumas se tornaram famosas. A mais rigorosa, a que jamais poderia ser quebrada ou desrespeitada era proibindo a mistura dos djins. Cada um deveria permanecer com os seus. Para a maioria deles, era fácil. Cuidavam dos assuntos de seus domínios, pouco importando os demais. Só que, na tribo dos djins das plantas, havia a mais bela entre todos. Seu nome era Astee, e dançava no meio das plantas com a liberdade daqueles que não sabem serem observados. Escondidos da presença mágica da aura de Astee, dois a admiravam. Quren era filho do Vento. Olhava para a moça, e imaginava uma escrava dobrando-se aos seus desejos. O outro admirador da beleza da dama era Silian, que caminhava na terra. Este se embevecia no sorriso de Astee e sentia vontade de acompanhá-la em sua dança. Receoso de quebrar as regras, ficava satisfeito por vê-la feliz.-E o outro?-Os ventos são inconstantes. Não se pode prever seus movimentos ou saber o que estão sentindo. Quren desejava Astee, mesmo sabendo que não poderia possui-la. Decidiu que iria arriscar. Enquanto a doce criatura caminhava em um gramado, saiu de seu esconderijo. Correu atrás dela, levando consigo a força dos ventos, destruindo as plantas em seu caminho. Astee buscou refúgio. Mas ali não havia como se proteger dos ventos enlouquecidos de paixão. Ao ver o desespero de sua amada, Silian não se conteve. Comandou a terra para que se fortalecesse como rochas e protegesse a djin nas encostas rochosas, no entanto pouco adiantou. A fúria do ar aumentava cada vez mais. Em um último sacrifício, Silian juntou sua própria essência à das pedras. E Astee fincou seus pés nas saliências, tentando não ser levada. Quanto mais segurava, mais o ar rodopiava. Reunindo suas últimas forças, transformou-se em uma das plantas que tanto amava. Quren continuou a soprar, entortando seu novo corpo. A força de vontade da djin, combinada com o amor que Silian lhe tinha, resistiram. Os dois uniram-se no meio do deserto.
O caravaneiro olhou novamente. E desta vez pareceu distinguir nas rochas um rosto, e nas curvas da árvore algo feminino.
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