terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Lenda da Concha do mar

Lenda da concha do mar Apareceram muitas conchas de bivalves, que a gentes antigas da Feira comiam do mar, quer dizer, aqui a alimentação era em grande parte marítima, o que confirma inteiramente a ideia de que no antigo recorte do litoral da terra que depois veio a ser Portugal o mar penetrava profundamente. É muito possível que chegasse ao sopé do monte onde se ergueu, primeiro a cividade, ou fortaleza, ou o castro da Feira. Castro que depois foi castelo, castelo que depois foi palácio e que hoje é monumento nacional, mas que inicialmente era um ponto onde o mar se aproximava com as marés cheias. Na terra há uma lenda antiquíssima, transmitido de geração em geração. As pessoas idosas recordam, que os avós, já lhes diziam, um dito popular que ficou na memória colectiva do povo feirense, “que o mar já esteve na Feira, e cá há-de voltar para levar uma conchinha que cá deixou, depositada por alguém do outro mundo num bauzinho de madrepérola!”. Esta lenda é contada para demonstrar a pequenez humana perante os elementos da natureza. Isto pode ser uma reminiscência do tempo em que o mar realmente chegava à Feira, aonde os locais o viam como força divina. Mas também pode ser uma espécie de profecia de que o mar há-de voltar para levar uma conchinha que lá deixou – “não se deve deixar coisas importantes para trás, independentemente do seu tamanho”. Ela representa uma visão e uma forma de vivência baseada em códigos em que a Mãe-natureza dita sobre a vida ou a morte. Por vezes parece-nos que as profecias catastróficas podem-se concretizar, pela maneira como o clima está a mudar, infelizmente. O mar está a subir de nível e se ele sobe meia dúzia de metros volta a chegar à Feira, à colina do castelo, onde tem depositado a preciosidade que tanta geração protelou. Dá a impressão que o castelo dominava sobre uma vasta região marítima, e estas colinas emergiam, como ilhotas, onde viviam povoados castrejos que dependiam, também da pesca. Se olharmos na direcção do mar, vemos uma imensa planície que, sempre baixa, acaba na praia de Espinho, porque o mar fica perto, as terras são de aluvião e arenosas. Bem perto da Feira há um sítio que se chama “as marinhas”, quer dizer que havia ali poças de água do mar, para se obter o sal, e é muito possível que o início do Castelo da Feira tenha sido isso.Na actualidade, no fundo do castelo e dos terrenos à volta, aparece o rio Cáster que desce, vagarosamente, para a Barrinha de Esmoriz, quer dizer, que está quase ao nível do mar. Portanto, o tal ditado “o mar já cá esteve e há-de voltar para levar uma conchinha que cá deixou” pode bem ser uma profecia que oxalá não aconteça.