quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010


A Moura Dinorah
Dinorah, filha de Agar, era uma das mais belas mouras de todo o Algarve muçulmano. Vivia num belíssimo palácio de mil colunas finas de mármore rosa e ventanas de filigrana de madeira, rodeada de coxins de seda coloridas e macias como o roçar de asas de pomba. Jardins de maravilha, onde bailavam exóticas danças flores de todo o mundo, haviam sido plantados para encantar os seus olhos negros. Riachos transparentes saltitavam de calhau em calhau num rumorejar de música constante. E, contudo, Dinorah chorava. Era como se uma tristeza infinda, inexplicável, se tivesse instalado no seu coração. E Dinorah chorava por estar encerrada por detrás da filigrana das ventanas, por ter de sentir beleza no esquadriado dos seus lindíssimos jardins. Dinorah chorava afinal aquela sua solidão irremissível, chorava-se coração para amar sem ter a quem amar. Por isso os seus olhos negros, negros como um céu onde a lua nunca passeou o luar, eram tristes. Numa tarde de Primavera, começavam as amendoeiras a florir, estava Dinorah no seu balcão, passeando os olhos tristes e negros pelo desabrochar da natureza, quando passou um trovador que ao ver tanta melancolia lhe perguntou cantando como a poderia alegrar. E Dinorah respondeu: - Ah, trovador, trovador!...Se me pudesses ajudar, dá-me um véu para noivar… Ouvindo estas palavras partiu o cavaleiro a galope, ficou Dinorah a chorar. Mas mouro com cristão não deve falar e a Alá não agradou este breve instante. Por isso decidiu, logo ali, aqueles dois castigar. Chegou a noite de mansinho e cobriu com o seu manto da cor dos olhos de Dinorah todas as coisas da terra. A essa mesma hora, uma voz dulcíssima, cheia de uma ternura nunca ouvida, soou ao som de um alaúde, cantando trovas velhinhas. E nessa noite Dinorah dormiu tranquila e em paz porque sabia já não estar só. Ao acordar, pela manhã, os olhos negros da moura brilhavam finalmente como se nessa noite a lua tivesse, pela primeira vez, deixado o luar encantar a sua visão. E quando chegou à janela viu acenar-lhe o braço incansável do trovador da noite e tudo, tudo à volta deles eram pétalas brancas de noivar. Estendeu, também ela, o braço para num aceno agradecer mas, neste gesto, viu-se transformar em fonte e o seu trovador mudar-se em lago. Desde então andam juntos a correr para o mar e todos os anos, pela Primavera, Alá manda-lhes as flores de amendoeira para que possam noivar.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

LENDA DAS TRÊS GEMEAS



No tempo em que Silves pertencia aos Mouros, vinha o rei Mohamed a passear a cavalo quando encontrou um destacamento do seu exército que trazia reféns cristãos. Entre estes estava uma lindíssima jovem, sumptuosamente vestida, acompanhada da sua aia, filha de um nobre morto durante o saque ao seu castelo. Mohamed ordenou que a nobre dama fosse levada para o seu castelo, onde a rodeou de todas as atenções, e lhe pediu que abraçasse a fé de Maomé para se tornar sua mulher. A jovem chorou de desespero porque Mohamed não lhe era indiferente, mas a sua aia encontrou a solução: ambas renegariam a fé cristã apenas exteriormente para agradar ao rei mouro e possibilitar o casamento. Passado algum tempo, nasceram três gémeas a quem os astrólogos auspiciaram beleza, bondade e ternura, para além de inteligência, mas avisaram o rei que este deveria vigiá-las quando estas chegassem à idade de casar. O rei não as deveria confiar a ninguém. Passaram alguns anos e a sultana morreu, ficando a aia, que tinha tomado o nome árabe de Cadiga, a tomar conta das jovens. Quando estas eram adolescentes o rei levou-as para um castelo longe de tudo, onde havia apenas o mar por horizonte. As princesas tornaram-se mulheres, mas embora gémeas tinham personalidades muito diferentes. A mais velha era intrépida, curiosa, porte distinto e de olhar insinuante e profundo. A do meio era a mais bela, de uma singular beleza e apreciava tudo o que era belo, as jóias, as flores e os perfumes caros. A mais nova era a mais sensível. Tímida e doce, passava horas a olhar o mar sob o luar prateado ou o pôr-do-sol ardente.
Um dia, contra todas as indicações do rei aportou perto do castelo uma galera com reféns cristãos, entre os quais se salientavam três jovens belos, altivos e bem vestidos. Curiosas, as princesas perguntaram a Cadiga quem eram aqueles homens de aspecto tão diferente dos mouros. Cadiga respondeu-lhes que eram cristãos portugueses e contou às princesas tudo sobre o seu passado. Como as princesas começassem a ficar demasiado interessadas com os jovens cristãos, Cadiga pediu ao rei que levasse as filhas para junto de si, sem lhe explicar a razão. Cavalgavam as princesas com o rei e o seu séquito a caminho de Silves quando se cruzaram com os três cativos cristãos que não respeitaram a ordem de baixarem o olhar. As princesas quando os avistaram levantaram os véus e o rei, furioso, mandou castigar os cristãos insolentes. As princesas ficaram muito tristes mas conseguiram convencer Cadiga a arranjar maneira de se encontrarem com os jovens cristãos. A paixão violenta desencadeada por aquele encontro foi alegria de pouca dura. Os três cristãos foram resgatados pelo rei português e iriam embora em breve. As princesas dispuseram-se a segui-los e a converterem-se à fé cristã antes de casarem com os nobres cristãos. Cadiga rejubilava por conseguir resgatar para a fé que secretamente professava as filhas da sua ama. Foi então que a princesa mais nova se recusou a partir e a abandonar o pai. Ficou para trás e, conta a lenda, morreu de tristeza pouco tempo depois. A sua alma ainda hoje se lamenta e chora na torre do castelo nas noites sem luar.

A MOURA DO CASTELO DE TAVIRA

A Moura do Castelo de TaviraA noite de S. João é, desde tempos imemoriais, a noite das mouras encantadas. A tradição conta que no castelo de Tavira existe uma moura encantada que todos os anos aparece nessa noite para chorar o seu triste destino. Os mais antigos dizem que essa moura é a filha de Aben-Fabila, o governador mouro da cidade que desapareceu quando Tavira foi conquistada pelos cristãos, depois de encantar a sua filha. A intenção do mouro era voltar a reconquistar a cidade e assim resgatar a infeliz filha, mas nunca o conseguiu. Existe uma lenda que conta a história de uma grande paixão de um cavaleiro cristão, D. Ramiro, pela moura encantada. Foi precisamente numa noite de S. João que tudo aconteceu. Quando D. Ramiro avistou a moura nas ameias do castelo, impressionou-o tanto a sua extrema beleza como a infelicidade da sua condição. Perdidamente enamorado, resolveu subir ao castelo para a desencantar. A subida através dos muros da fortaleza não se revelou tarefa fácil e demorou tanto a subir que, entretanto, amanheceu e assim passou a hora de se poder realizar o desencanto. Diz o povo que a moura, mal rompeu a aurora, entrou em lágrimas para a nuvem que pairava por cima do castelo, enquanto D. Ramiro assistia sem nada poder fazer. A frustração do jovem cavaleiro foi tão grande que este se empenhou com grande fúria nas batalhas contra os Mouros. Conquistou, ao que dizem, um castelo, mas ficou sem moura para amar...

LENDA DE DONA BRANCA


Lenda de Dona Branca ou da Tomada de Silves aos MourosReinava em Silves o inteligente e corajoso rei mouro Ben-Afan que numa noite de tempestade, no intervalo das suas lutas contra os cristãos, teve um sonho extraordinário. Um sonho que começou por ser um pesadelo, com tempestades e vampiros, mas que se tornou numa visão de anjos, música e perfumes e terminou pelo rosto de uma mulher, divinamente bela, com uma cruz ao peito. No dia seguinte, Ben-Afan procurou a fada Alina, sua conselheira, que lhe revelou que tinha sido ela própria a enviar-lhe o sonho e que a sua vida iria mudar. Deu-lhe então dois ramos, um de flor de murta e outro de louro, significando respectivamente o amor e a glória. Consoante os ramos murchassem ou florissem assim o rei deveria seguir as respectivas indicações. Enviou-o ao Mosteiro de Lorvão e disse-lhe que lá o esperava aquela que o amor tinha escolhido para sua companheira: Branca, princesa de Portugal. Para entrar no mosteiro, Ben-Afan disfarçou-se de eremita e o primeiro olhar que trocou com a princesa uniu-os para sempre. O rei mouro voltou ao seu castelo e preparou os seus guerreiros para o rapto da princesa. Branca de Portugal e Ben-Afan viveram a sua paixão sem limites, esquecidos do mundo e do tempo. O ramo de murta mantinha-se viçoso, até que um dia D. Afonso III, pai de Branca, cercou a cidade de Silves e Ben-Afan morreu com glória na batalha que se seguiu. Nas suas mãos foram encontrados um ramo de murta murcho e um ramo de louro viçoso.

lenda da moura de salir

Lenda da Castelã Moura de Salir A vila de Salir, no Algarve, deve o seu nome à filha do alcaide de Castalar, Aben-Fabilla, que fugiu quando viu o seu castelo ameaçado pelo exército de D. Afonso III. Antes de fugir, o alcaide enterrou todo o seu ouro, pensando vir mais tarde resgatá-lo. Quando os cristãos tomaram o castelo encontraram-no vazio, à excepção da linda filha do alcaide que rezava com fervor que tinha preferido ficar no castelo e morrer a "salir". De um monte vizinho, Aben-Fabilla avistou a filha cativa dos cristãos e com a mão direita traçou no espaço o signo de Saimão, enquanto proferia umas palavras misteriosas. Nesse momento, o cavaleiro D. Gonçalo Peres que falava com a moura viu-a transformar-se numa estátua de pedra. A notícia da moura encantada espalhou-se pelo castelo e um dia a estátua desapareceu. Em memória deste estranho fenómeno ficou aquela terra conhecida por Salir, em homenagem pela coragem de uma jovem moura. Ainda hoje no Algarve se diz que em certas noites a moura encantada aparece no castelo de Salir.

ADAFER O MAGO






O rio Tifnut, que desce das montanhas de Likun, no interior marroquino, para despejar suas águas barrentas junto à cidade de Agadir Isir, no Mediterrâneo, apresenta em seu longo e acidentado percurso um trecho onde a correnteza esbraveja em espadanadas e cuja travessia é quase impraticável ao mais temerário aventureiro.
Ali – dizem os árabes - a Morte, com sua máscara de espuma, vem bailar como louca à tona d'água. Esse sorvedouro começa pouco abaixo do oásis de Tarudant e vai até às proximidades de uma pequena aldeia - denominada El-Kibir, onde foi sepultado há séculos o milagroso Simi Ahmed, santo famoso do Islã.
É precisamente entre as velhas aldeias de Tarudant e El-Kibir que o viajante encontra, nas margens do rio impetuoso, uma das curiosidades mais atraentes de Marrocos. É uma pedra alta, negra, lisa, que semelha um dedo gigantesco a apontar eternamente para o céu de Allah. Esse belo monumento da natureza os indígenas e muçulmanos denominaram Uada - vocábulo que na língua árabe significa "Promessa feita a Deus".
Conta-se, a propósito do rochedo de Uada, que quando o tão ambicionado território de R'arb se achava sob a dominação das legiões romanas, apareceu na Argélia um marroquino, que se tornou célebre em razão dos seus grandes conhecimentos de magia, os quais lhe valeram ascendência notável sobre todos os djins e efrites (gênios sobrenaturais) que povoavam a região.
Chamava-se Tala-Salem Adafer esse mago.
Refere a lenda, uma das mais curiosas do Oriente, que um dia o poderoso Adafer resolveu fazer uma viagem aos tenebrosos desertos e aos ricos oásis do país dos Tuaregues. Antes porém de partir colocou em sete jarros de bronze todas as pedrarias, ouro e jóias que possuía, e escondeu o precioso tesouro sob uma grande pedra que se erguia junto ao rio Tifnut. A pedra era encantada e, semelhante àquela que aparece nas fantásticas aventuras de Ali-Babá, só se abria - deixando a descoberto os tesouros do mago - se alguém pronunciasse diante dela certa palavra a que a magia emprestava especial poder.
O sábio ocultista não revelou a quem quer que fosse a palavra encantada que permitia a posse de seus invejáveis bens. Partiu para a longa jornada e - segundo diz a lenda - nunca mais voltou. Fora morto no Saara pelo punhal certeiro dos Tuaregues ou pereceu sob as garras de alguma pantera nas planícies africanas. E o tesouro fabuloso ficou para todos os tempos - no desfilar dos séculos - oculto pela pedra negra, contra a qual o Tifnut espumejava em sua atroadora descida pelas montanhas.
Um dia dois beduínos em viagem para Tiznit, pararam junto à célebre Uada. Sentaram-se despreocupados à sombra do famoso rochedo e puseram-se a conversar enquanto aguardavam a hora da terceira prece muçulmana.
- Qual é o nome do teu camelo? - perguntou um dos beduínos ao companheiro.
- Pelos sete minaretes de Meca! - respondeu o outro. - Ainda não me lembrou um nome digno do meu belo jamal, que, como sabes, descende da célebre camela "Niami" do califa Al Mammum!
- Se queres apenas um nome - garantiu o primeiro, - é fácil tarefa obter um que te agrade. Por que não dás ao teu camelo o apelido de "Al-anis"?
- Não serve, amigo! É muito vulgar.
- Al-Takkis!
- Não serve, também. É pouco sonoro.
- Al-jabal! - Abyad!
- Já tive um cavalo com esse nome.
E, assim, durante várias horas se entretiveram os dois beduínos: o primeiro a citar uma série infindável de nomes que o outro não aceitava sob diversos pretextos.
De repente, porém, notaram os dois companheiros que da outra margem do rio um grupo numeroso de camponeses e viajantes acenava para eles, gritando ao mesmo tempo coisas que o ruído constante das águas não lhes permitia ouvir.
- Que quererão aqueles homens? – observou intrigado um dos beduínos. - Há que tempo estão a gritar e a fazer-nos de lá sinais como se pusessem grande empenho em que os compreendêssemos.
- É curioso! - tornou o outro. - A correnteza do rio impede-os, com certeza, de chegarem até aqui. Parecem aflitos. "Por Allah", não sei o que eles querem!
Mal havia o beduíno pronunciado estas últimas palavras, um estrondo medonho abalou o espaço como se a pedra negra e formidável, abalada por um diabólico esforço, tivesse caído, esmagando tudo!
Compreenderam logo os dois aventureiros do deserto o que ocorrera. Durante a longa conversa, um deles, sem querer, havia pronunciado a palavra encantada que permitia abrir uma única vez a gruta maravilhosa em que estava o tesouro do mago; como porém estivessem sentados de costas para o rochedo, não haviam dado pela extraordinária revelação. Os pastores da outra margem viram, entretanto, desvendado o segredo da pedra e tudo fizeram para chamar a atenção dos despreocupados beduínos, pedindo-lhes em altas vozes que não pronunciassem o nome de Allah, o Altíssimo, pois iriam assim desmanchar o encantamento da palavra mágica e o tesouro ficaria para sempre perdido.
Quantos homens há que, à semelhança dos dois beduínos dessa lenda, têm por longo tempo ao alcance das mãos um invejável tesouro e nem sequer pressentem o brilho ofuscante de suas raras pedrarias!

Lendas do deserto

No topo da montanha, uma árvore solitária chama a atenção da caravana. A lua serve de pano de fundo para seu contorno retorcido. Um dos mais velhos sorri ao ver o quadro inusitado.-Era verdade.O companheiro mais próximo, ocupado em não deixar os animais saírem de fila, pergunta.-Como?-Antes do mundo conhecer o Deus Único e seu profeta, o deserto era habitado por seres estranhos. Os homens, ignorantes, cultuavam essas criaturas como deuses. Era chamados djins e ligavam-se ao seu ambiente. Alguns falavam com o vento, outros com o sol, assim como havia aqueles que se uniam à terra e os que eram unos com as plantas raras do deserto. Espécies diferentes que viviam em paz, segundo regras específicas. Muitas não ficaram conhecidas pelos homens. Mas algumas se tornaram famosas. A mais rigorosa, a que jamais poderia ser quebrada ou desrespeitada era proibindo a mistura dos djins. Cada um deveria permanecer com os seus. Para a maioria deles, era fácil. Cuidavam dos assuntos de seus domínios, pouco importando os demais. Só que, na tribo dos djins das plantas, havia a mais bela entre todos. Seu nome era Astee, e dançava no meio das plantas com a liberdade daqueles que não sabem serem observados. Escondidos da presença mágica da aura de Astee, dois a admiravam. Quren era filho do Vento. Olhava para a moça, e imaginava uma escrava dobrando-se aos seus desejos. O outro admirador da beleza da dama era Silian, que caminhava na terra. Este se embevecia no sorriso de Astee e sentia vontade de acompanhá-la em sua dança. Receoso de quebrar as regras, ficava satisfeito por vê-la feliz.-E o outro?-Os ventos são inconstantes. Não se pode prever seus movimentos ou saber o que estão sentindo. Quren desejava Astee, mesmo sabendo que não poderia possui-la. Decidiu que iria arriscar. Enquanto a doce criatura caminhava em um gramado, saiu de seu esconderijo. Correu atrás dela, levando consigo a força dos ventos, destruindo as plantas em seu caminho. Astee buscou refúgio. Mas ali não havia como se proteger dos ventos enlouquecidos de paixão. Ao ver o desespero de sua amada, Silian não se conteve. Comandou a terra para que se fortalecesse como rochas e protegesse a djin nas encostas rochosas, no entanto pouco adiantou. A fúria do ar aumentava cada vez mais. Em um último sacrifício, Silian juntou sua própria essência à das pedras. E Astee fincou seus pés nas saliências, tentando não ser levada. Quanto mais segurava, mais o ar rodopiava. Reunindo suas últimas forças, transformou-se em uma das plantas que tanto amava. Quren continuou a soprar, entortando seu novo corpo. A força de vontade da djin, combinada com o amor que Silian lhe tinha, resistiram. Os dois uniram-se no meio do deserto.
O caravaneiro olhou novamente. E desta vez pareceu distinguir nas rochas um rosto, e nas curvas da árvore algo feminino.

A raínha sherazade


Num distante País vivia um homem bonito e honrado, esse rei, de nome Shariar, já havia sido muito feliz, sem saber que sua esposa guardava um terrível segredo: apesar de fingir que o amava, ela na verdade estava apaixonada pelo servo mais indigno da corte. Um dia Shariar casualmente a surpreendeu num canto escuro do palácio nos braços do amante. Transtornado pela dor e pelo espanto, o soberano soltou um grito medonho e sacou da espada para cortar a cabeça da mulher infiel e do servo desleal. Pouco tempo mais tarde um cavalo parou na frente do palácio, e o irmão do rei, Shazaman, entrou para visita-lo. “Mas é inacreditável!” Shazaman exclamou. “ Pois pouco antes de partir a mesma coisa aconteceu comigo! Encontrei minha esposa beijando um de meus servos e, como você, também puxei a espada e cortei a cabeça dos pérfidos.” Dias depois Shazaman voltou para seu reino, e Shariar ficou postado junto à fonte, contemplando as águas límpidas com um olhar pensativo. Por fim fez um juramento terrível: “Amanhã à noite vou me casar de novo, mas não permitirei que minha mulher desfrute os privilégios de rainha. Pois, quando o dia clarear, mandarei executa-la. Na noite seguinte tomarei outra esposa e ao amanhecer ordenarei que a eliminem. E assim hei de fazer sucessivamente até que não sobre neste reino uma única representante do gênero feminino”. Dito e feito. Toda a noite ele escolhia uma nova esposa e toda manhã mandava a infeliz para a morte. Seus súditos viviam apavorados, temendo perder filhas, irmãs, netas. Muitos fugiram para outros reinos, e por fim restou nos domínios de Shariar uma só noiva disponível. Tratava-se de Sherazade, jovem de alta estirpe, filha do primeiro-ministro do soberano. O pobre homem se encheu de pavor e tristeza ao saber que ela estava condenada à morte. Sherazade, no entanto, não se desesperou. Era mais sábia e esperta que todas as suas predecessoras, e junto com a irmã caçula elaborou um plano meticuloso. Terminada a breve cerimônia nupcial, o rei conduziu a esposa a seus aposentos, mas, antes de trancar a porta, ouviu uma ruidosa choradeira. “Oh, Majestade, deve ser minha irmãzinha, Duniazade”, explicou a noiva. “Ela está chorando porque quer que eu lhe conte uma história, como faço todas as noites. Já que amanhã estarei morta, peço-lhe, por favor, que a deixe entrar para que eu a entretenha pela última vez!” Sem esperar resposta, a jovem abriu a porta, levou a irmã para dentro, instalou-a no tapete e começou: “Era uma vez um mágico muito malvado...”. Furioso, Shariar se esforçou ao máximo para impedir a narrativa; resmungou, bufou, tossiu, porém as duas irmãs o ignoraram. Vendo que de nada adiantava sua estratégia, ele ficou quieto e se pôs a ouvir o relato de Sherazade, meio distraído no início, profundamente interessado após alguns instantes. A pequena Duniazade adormeceu, embalada pela voz suave da rainha. O soberano permaneceu atento, visualizando mentalmente as cenas de aventura e romance descritas pela esposa. De repente, no momento mais empolgante, Sherazade silenciou. “Continue!”, Shariar ordenou. “Mas o dia está amanhecendo, Majestade! Já ouço o carrasco afiar a espada!” “Ele que espere”, declarou o rei. Shariar se deitou e logo dormiu profundamente. Despertou ao anoitecer e ordenou à esposa que concluísse o relato, mas não se deu por satisfeito. “Conte-me outra!”, exclamou. Sherazade sorriu e recomeçou: “Era uma vez...”. Novamente o sol adiou a execução. Quando Sherazade terminou, ela a mandou contar mais uma história. E assim a jovem rainha: conseguia postergar a própria morte. De dia o rei dormia tranqüilamente, à noite, acordava sempre ansioso para ouvir o final da narrativa interrompida e acompanhar as peripécias de mais um herói ou heroína. Já não conseguia conceber a vida sem os contos de Sherazade, sem as palavras que lhe jorravam da boca como a música mais encantadora do mundo. Dessa forma se passaram dias, semanas, meses, anos. E coisas estranhas aconteceram. Sherazade engordou e de repente recuperou seu corpo esguio. Por duas vezes ela desapareceu durante várias noites e retornou sem dar explicação, e o rei tampouco lhe perguntou nada. Certa manhã ela terminou uma história ao surgir do sol e falou: “Agora não tenho mais nada para lhe contar. Você percebeu que estamos casados há exatamente mil e uma noites?” Um ruído lhe chamou a atenção e, após uma breve pausa, ela prosseguiu; “Estão batendo na porta! Deve ser o carrasco. Finalmente você pode me mandar para a morte!”. Quem entrou nos aposentos reais foi, porém, Duniazade, que ao longo daqueles anos se transformara numa linda jovem. Trazia dois gêmeos nos braços, e um bebê a acompanhava, engatinhando. “Meu amado esposo, antes de ordenar minha execução, você precisa conhecer meus filhos”, disse Sherazade. “Aliás, nossos filhos. Pois desde que nos casamos eu lhe dei três varões, mas você estava tão encantado com as minhas histórias que nem percebeu nada...” Só então Shariar constatou que sua amargura desaparecera. Olhando para as crianças, sentiu o amor lhe inundar o coração como um raio de luz. Contemplando a esposa, descobriu que jamais poderia matá-la, pois não conseguiria viver sem ela. Assim, escreveu a seu irmão e lhe propondo que se casasse com Duniazade. O casamento se realizou numa dupla cerimônia, pois Shariar esposou Sherazade pela segunda vez, e os dois reis reinaram felizes até o fim de seus dias

Marrocos, Argélia, Tunísia, Líbia e Egipto, são os cinco estados ribeirinhos do Norte de África. Caracterizados pelas terras costeiras mediterrânicas, o deserto do Sara, desde o Oceano Atlântico ao Mar Vermelho, o carácter árabe das populações e a religião muçulmano, estes países têm nestas características as condicionantes de muitos aspectos da sua paisagem física e cultural. Os países da África Sudanesa – Sudão, Chade, Níger, Burkina Faso, Mali e Mauritânia – também encontram no Sara o elemento unificador, em conjunto com os aspectos culturais do mundo islâmico, embora aqui exista uma diversidade étnica ligada ao tronco demográfico sudanês. Esta parte do continente Africano é habitada por populações seminómadas dedicadas à pastorícia. Os Tuaregues, povo altivo, habita o deserto do Sara, radicando-se no Sul da Argélia e no Norte do Níger e do Mali. Este povo foi definido como “os homens azuis”, pela cor do lenço com que cobrem a cabeça. Evocam uma imagem fascinante e misteriosa, existindo lendas sobre eles transmitidas de geração em geração, de coragem e espírito guerreiro, de amor à música e à poesia. Islâmicos, são monogâmicos e confiam às suas mulheres papéis importantes. Os Berberes, residentes em Marrocos, Tunísia, Argélia e Líbia, aquando da conquista árabe, defenderam orgulhosamente a sua cultura, mantendo um diferente estilo de vida ligado à pastorícia nómada ou afastando-se em pequenas aldeias isoladas nas montanhas.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

castelo de silves

Silves

Saúda, por mim, Abu Bakr,
Os queridos lugares de Silves
E diz-me se deles a saudade
É tão grande quanto a minha.
Saúda o palácio dos Balcões
Da parte de quem nunca os esqueceu.
Morada de leões e de gazelas
Salas e sombras onde eu
Doce refúgio encontrava
Entre ancas opulentas
E tão estreitas cinturas!
Mulheres níveas e morenas
Atravessavam-me a alma
Como brancas espadas
E lanças escuras.
Ai quantas noites fiquei,
Lá no remanso do rio,
Nos jogos do amor
Com a da pulseira curva
Igual aos meandros da água
Enquanto o tempo passava..
E me servia de vinho:
O vinho do seu olhar
Às vezes o do seu copo
E outras vezes o da boca.
Tangia cordas de alaúde
E eis que eu estremecia
Como se estivesse ouvindo
Tendões de colos cortados.
Mas retirava o seu manto
Grácil detalhe mostrando:
Era ramo de salgueiro
Que abria o seu botão
Para ostentar a flor.
In Silves no Contexto Poético Ândalus da autoria do Dr. Adalberto Alves


Um pouco de história desta cidade...
A origem de Silves é difícil de determinar, dada a sua antiguidade. A arqueologia permitiu, entretanto, concluir que a região é habitada desde o Paleolítico.
A fundação de Silves é, no entanto, muito difícil de identificar. Ao que tudo indica a fortaleza do alto da colina de Silves foi construída durante o período da ocupação romana e que se transformou num castelo. A Cisterna dos Cães ainda que possa ter sido uma mina em período anterior foi trabalhada pelos romanos, tal como o celeiro ou cisterna subterrânea abobadada.
A recente descoberta de Vila Fria por José Luís Cabrita, vem confirmar a presença dos romanos em Silves.
Mas é, sem dúvida durante a ocupação árabe que Silves atinge o seu máximo esplendor, tendo sido várias vezes capital do Algarve. Silves foi ocupada pelos árabes do Iémen logo depois da conquista da Península e aqui se desenvolveu uma cultura tipicamente árabe.
O acontecimento, de época muçulmana, mais antigo que se conhece em Silves é o embarque do poeta e diplomata Yahya Algazel para a terra dos Madjus, como embaixador de Abderramão II.
O desenvolvimento da cidade processou-se com a chegada do príncipe muladi, ou seja cristão hispânico convertido ao islamismo, Bakr bem Yahya, de Santa Maria do Ocidente que aqui instalou uma Chancelaria, um Conselho de Estado e tropas numerosas.
Em meados do século XII surgiu em Silves um movimento religioso e político, dos Muridas, organizado e comandado por Ahmad Ibn Qasî. Este foi autor de um célebre tratado de Filosofia Mística “O descalçar das duas sandálias”, tomou Mértola e proclamou-se Mahdî, o Messias.
Após desentendimentos com companheiros seus junta-se aos Almóadas e com a sua ajuda reconquista Silves e Mértola.
Termina então em conflito também com estes e alia-se a Afonso Henriques de Portugal. Os seus velhos amigos de Silves desgostados com tal aliança, assassinam-no no Palácio das Varandas.
Em 1189 Silves foi atacada e tomada aos Almóadas por D. Sancho 1 com o auxílio dos membros da III Cruzada, que incluía o Imperador da Alemanha Frederico Barba Roxa, o Rei de França Filipe Augusto e o Rei de Inglaterra Ricardo Coração de Leão.
Após renhido combate a cidade rendeu-se pela sede. Nessa altura Sancho I intitulou-se Rei de Portugal e de Silves.
Os muçulmanos retomaram Silves em 1191, ficando a cidade arruinada, não mais recuperando o seu brilho.
Ibn Mahfot foi o último senhor árabe de Silves. D. Paio Peres Correia reconquistou definitivamente a cidade entre 1242 e 1246.
Em 1266 D. Afonso III concedeu a Silves um foral semelhante ao que havia sido atribuído a Lisboa. Em 1269 o mesmo rei concedeu aos mouros forros de Silves, e de outras localidades algarvias, um foral.
A primeira Sé de Silves deve ter-se localizado na antiga Mesquita Maior, depois de convertida em templo cristão, em 1189, portanto depois da primeira conquista portuguesa da cidade.
Quando a cidade foi definitivamente conquistada os reis de Portugal e Castela pensaram em construir aí uma nova Catedral. Este novo templo deve ter sido começado a construir em finais do século XIII, por ordem de Afonso III. O mestre da obra foi Domingos Johanes, cuja lápide sepulcral se descobriu numa antiga sacristia da Sé de Silves, com a data de 1279, que parecia indicar a data da morte do construtor.
A Sé de Silves foi iniciada em estilo gótico e concluída ao gosto barroco e constitui o mais importante templo de todo o Algarve. Desde 1922 é considerada Monumento Nacional.
Das três ordens de fortificações que Silves possuía durante a ocupação árabe, o Castelo, as Muralhas da Almedina e as do Arrabalde, não restam hoje senão as duas primeiras e vestígios da última.
As Muralhas da Almedina estão ainda quase intactas, apenas cortadas em alguns troços. Este troço muralhado parte da Torre do Segredo, do castelo e contornam a cidade por toda a parte setentrional. Algumas das torres que acompa nham o muro são autenticamente árabes, de terra batida e cimento ou taipa.
Na Casa do Poço-Cisterna Árabe, mesmo junto das muralhas, na Rua da Porta de Loulé encontra-se instalado o recentemente criado Museu de Silves, que encerra valioso espólio arqueológico da região, de todas as épocas, mas com especial predominância do período árabe, em que Silves é riquíssima. Trata-se dum enorme poço (aprox. 20 metros), de boca circular e construído em forte aparelho de grés. Tem a raríssima característica de ser rodeado até quase ao nível da água por uma escada abobadada e em espiral, aqui e além servida por três janelas de acesso à água.A sua dupla designação de poço-cisterna protege a possibilidade de poder ser também abastecido pela água recolhida pelos telhados vizinhos.Trata-se duma construção do período almóada da ocupação mourisca, finais do séc. XII, princípios do séc. XIII, mas sem grandes paralelos em todo o mundo árabe.Construído mesmo junto à muralha da medina, perto de uma torre albarrã, e muito perto duma porta principal, terá tido durante toda a Idade Média um papel fundamental no abastecimento da cidade baixa. A humilhante rendição pela sede aos Cruzados nos finais do Verão de 1189 poderá não ser alheia à decisão de construir uma tal obra hidráulica.

MAPA DA CIDADE

Castelo de Silves
Ex-libris da cidade, um dos principais vestígios da arquitectura militar islâmica em Portugal, o castelo distingue-se pelo seu avermelhado conferido pela pedra grés em que é constituído.
As suas origens são bastante remotas, pois provavelmente já existia quando ali chegaram os romanos, mas sem dúvida, que foi este povo que o transformou em poderoso reduto. Os Árabes embelezaram-no e deram-lhe maior valor bélico. Becre Ibne Yahiá, príncipe muladi de Santa Maria do Algarve (Faro) escolheu-o para sua residência e nele se instalara, mais tarde, o príncipe Banu Mozaine. Alcáçova
A Alcáçova é a área nobre do Castelo e aquela que beneficiou de importante restauro e consolidação neste século (1948). A sua superfície é de aproximadamente 12.000 metros quadrados, rodeados por muralha de forma poligonal construída em arenito vermelho, o conhecido grés de Silves, e miolo em taipa.
Este conjunto de muralhas possui duas saídas: uma, a principal, dá acesso à Medina (a cidade), a outra, mais pequena e virada a Norte, é conhecida por Porta da Traição, e surge habitualmente nas construções muçulmanas dando acesso directo ao exterior.
As muralhas desta alcáçova são exteriormente reforçadas por onze torres de planta rectangular mas de concepção diferente. Referimo-nos às duas que são albarrãs, isto é, se destacam do pano de muralha através de um passadiço.
No interior desta alcáçova várias coisas ainda a registar: as duas cisternas, muito provavelmente mouras, uma das quais abobadada, o aljibe, mais conhecido por Cisterna da Moura e à qual se liga uma lenda; a outra, conhecida por Cisterna dos Cães, tem tanto de enigmática como de profunda, havendo quem diga que liga ao rio.
A destacar ainda as escavações em curso numa habitação muçulmana, quem sabe se do mítico Palácio das Varandas, o Axarajibe, da poesia e da lenda...
As Muralhas da Almedina envolviam a cidade que pela colina se estendia. Ainda hoje são visíveis na zona norte e poente algumas torres-albarrãs, das mais genuínas porque quase não restauradas. Na Rua Nova da Boavista duas grandes albarrãs, junto à Câmara Municipal outras três, uma das quais a mais importante porta da Medina, hoje Biblioteca Municipal e outrora a Casa da Câmara.
A Couraça é outra das originalidades introduzidas pela engenharia militar almóada.
As Muralhas do Arrabalde envolveriam a parte mais baixa da cidade. Dessa estrutura de material mais pobre resta o conhecido Arco da Rebola (Rua da Cruz da Palmeira).

Sé de Silves
Sendo da época do domínio muçulmano, mais propriamente do ano de 1189, a Mesquita Maior terá sido convertida num tempo cristão, depois da primeira conquista portuguesa. Contudo, só quando a cidade foi definitivamente conquistada, os reis de Portugal e Castela pensaram construir nesse local uma nova catedral. Assim, esta terá sido começada a construir no século XIII, por ordem de D. Afonso III. O mestre de obras foi Domingos Johanes, cuja lápide sepulcral foi descoberta na antiga sacristia da Sé, datada de 1279, ano provável da sua morte.
Devido ao tempo de construção, a Sé de Silves foi iniciada em estilo gótico e concluída em estilo barroco e constituí um dos mais importantes templos do distrito de Faro.
Ponte Romana
O Arade, rio que banha a cidade, passa por ela e vai desaguar a Portimão, passando por alguns pontos característicos de Silves. A sua velha Ponte, que possuiu originalmente seis arcos, muito embora possa ter começado por ser romana e seja assim conhecida, apresenta traços do período medieval, com pedra grés vermelha.
Igreja da Misericórdia
Erguendo-se defronte da velha Sé, deverá ter sido iniciada após a doação da cidade por D. Carlos II à Casa da Rainha, em 1491. A rainha D. Leonor empenhou-se, por certo, em construir uma igreja para a sua Santa Casa da Misericórdia, não obstante não existirem documentos que possam comprovar o mecenato real. O que nela resta de mais antigo é a porta manuelina que possui a nascente.
O seu interior é de uma só nave abobadada. Possui um retábulo (construção complementar posta atrás e acima de um altar) maneirista do século XVI que foi recentemente restaurado e que decora o altar da capela-mor. Na fachada, a entrada é feita por um pórtico num estilo italiano, do Renascimento tardio, da segunda metade do século XVI.

Igreja de Nª Senhora dos Mártires
Presume-se que a sua construção seja da época da reconquista cristã. A invocação da Igreja é em honra dos cavaleiros caídos pela reconquista da cidade aos mouros em 1189 e ali, segundo a tradição, foram em parte sepultados (ergue-se ali uma estátua em homenagem a esses mesmos cavaleiros). Apesar de ser muito anterior, esta igreja apresenta, sobretudo, vestígios da época manuelina (século XVI) e esses são mais visíveis na capela-mor, no interior e no exterior. No interior, pode-se observar o arco que lhe dá acesso e o seu abobadamento; no exterior, os típicos merlões [parte saliente de um parapeito que separa duas ameias (cada um dos pequenos parapeitos, separados por intervalos, na parte superior das muralhas e castelos)] e as gárgulas da época de D. Manuel I. O terramoto de 1755, que destruiu parte da igreja, foi responsável pela reconstrução da nova fachada principal, na qual se abre o pórtico em estilo rocócó (estilo que apresenta uma linha de decoração muito exagerada) (1779), muito semelhante ao da Porta do Sol da velha Sé.
Paços do Concelho
No ano de 1884, iniciou-se a construção do novo edifício da Câmara, então instalada no Torreão das Portas da Cidade. Devido a esta construção, foram destruídas as casas que existiam na parte setentrional da actual Praça do Município e, também, alguns trechos da muralha. A construção do edifício deve-se a Diogo Manuel Mascarenhas Neto, que em 1880 era Presidente da Câmara. A iniciativa, o projecto e o espaço principal parece se deverem a Gregório Mascarenhas e a direcção dos trabalhos coube ao mestre de obras José Vitorino Mealha. Embora conste na porta principal a data de 1889, só nos anos trinta foi feita a sua conclusão.
Deste belo edifício, dos séculos XIX/XX, destaca-se o Salão Nobre, o átrio-claustro de inspiração revivalista mudéjar (mourisca) e a clarabóia vidrada que o ilumina. Este edifício alberga quase todos os serviços da Câmara Municipal, assim como o Tribunal Judicial.
Pelourinho
Resto do pelourinho manuelino, exposto no largo fronteiro à Câmara Municipal. O Pelourinho de Silves se encontra situado na rua que leva seu nome. Foi reconstruído a partir de elementos do século XVI e representa o poder municipal. Trata – se de uma coluna na qual se julgava publicamente aos criminosos
A Cruz de Portugal A Cruz de Portugal é um dos mais famosos cruzeiros portugueses. Seu estilo gótico manuelino se encontra situado na avenida que vai em direcção ao Norte, especificamente no lugar conhecido como Rua da Cruz de Portugal. Tem uma altura de 3 metros e em uma das suas faces se encontra o Cristo Crucificado e na outra a Pietá. Sua base data de princípios do século XIX.
Torreão das Portas da Cidade
Resta apenas a torre albarrã [torre que se destaca da muralha através de um passadiço; criação genuína da engenharia militar Almóada, a albarrã, quando se colocavam junto a entradas, dificultavam a utilização de engenhos (aríetes, por exemplo) usados para derrubar portas] em grés, imponente, e o resto da muralha defensiva que rodeava a Almedina de Silves na época muçulmana e que protegia a principal porta da cidade.
Museu Arqueológico Municipal
Este museu alberga grande parte da colecção arqueológica municipal e que protege uma rara peça de construção islâmica.
Teatro Gregório Mascarenhas
O edifício do teatro, apresenta uma estrutura em ferro, recoberta por uma decoração em cartão imitando estuque, capitéis (parte mais elevada de uma coluna ou de uma pilastra), cariátides (figura de mulher que serva de base a uma arquitrave) e florão (ornato circular no centro de um texto), uma porta Arte Nova que dá acesso aos camarotes e um arco da boca de cena. Todo o edifício foi recentemente restaurado.
Museu da Cortiça
Integrado no interior da Fábrica do Inglês, recuperado de uma velha fábrica de cortiça do mesmo nome, hoje com fins turísticos, este museu, recuperou totalmente todo o material ali existente, tem hoje um espólio bastante diversificado o qual recebeu, no ano de 2001, o Prémio Lugi Micheletti para o melhor museu industrial europeu.


A freguesia de Silves é composta pelos seguintes locais: Barragem, Bastos, Canhestros, Casas de Odelouca, Cerro de São Miguel, Defesa, Enxerim, Falacho, Junqueira, Lobite, Monte Branco, Montes Grandes, Odelouca, Pedreira, Pinheiro, Pinheiro e Garrado, Poço Barreto, Poço Deão, Poço Fundo, Santo Estevão, Silves Gare, Tinhosas, Torre e Cercas, Tufos, Vala, Vale de Lama, Vale da Vila, Venda Nova, Vendas e Vila Fria.
Lendas e crendices de Silves


Lenda da Moura Encantada
Depois da conquista cristã formou-se no povo de Silves uma lenda que ainda hoje perdura. Na noite de S. João, à meia-noite, aparece na Cisterna Grande do Castelo (Cisterna chamada Mourisca) uma moura encantada, navegando sobre as águas numa barca de prata com remos de ouro e entoando hinos da sua raça. É uma princesa encantada que aguarda a chegada de um príncipe da sua fé que pronuncie as palavras necessárias para o desencanto. Em parte sobre o tema desta lenda, forjou Lorjó Tavares a sua opereta “A Moura de Silves “ cuja parte musical foi escrita pelo Maestro Guerreiro. Essa peça, levada à cena no Teatro da Trindade, em Lisboa, não tem qualquer espécie de elevação. A lenda da moura de Silves aguarda ainda quem a saiba aproveitar poeticamente. Luís Chaves tem uma novela sob o título “A Moira de Silves“, mas tal novela não mantém relação apreciável com a substância poética desta lenda, na verdade interessante e autêntica.


Lenda dos Talismanes
Ao Alcacer Axarajibe que existiu no local onde presentemente se encontra o castelo de Silves foi atribuída uma interessante lenda a que faz alusão a evocação de Ibne Cacane e que constitui o motivo das suas comparações imaginosas e oitirâmbicas. Segundo essa lenda, existiram enterrados no Castelo uns talismanes que quando aí se encontravam no seu esconderijo faziam a grandeza do Castelo, mas quando d’ai eram retirados, isso provocava a sua ruína. Tal lenda tem o seu fundamento no costume oriental de se colocar sempre uns talismanes sob o edifício que se constrói para lhe das sorte. Pode-se, com verdade, perguntar quem teria retirado do Castelo esses talismanes preciosos para que ele tivesse estado reduzido a ruínas durante tanto tempo e que se passa agora com os talismanes para que apresente um aspecto remoçado.

Lenda das Amendoeiras
É muito antiga esta lenda e foi atribuída a muitas regiões. Parece que tem s suas origens mais remotas na Pérsia, pais tradicional de amendoeiras e de gentileza. No entanto, ela surge também na Turquia e em todo o Próximo Oriente. Em Espanha foi atribuída à cidade de Córdova e a Sevilha. No Garbe português foi atribuída a Silves. Um rei mulçumano, Al-Mo´tamide ou Aben Mafom, teria mandado plantar pelos montes em volta do seu castelo, amendoeiras em enorme quantidade para satisfazer os desejos de sua esposa, um cristã do Norte que morria de saudades por não ver a neve dos altos píncaros. Uma vez despontadas as flores, a princesa, vendo tudo de branco coberto, passou a sentir-se como em sua casa e não mais pensou em voltar ao seu país. Hoje, as amendoeiras invadiram toda a cerca do Castelo de Silves, transformando o Castelo, na época própria, num enorme açafate de flores brancas com leves tonalidades de róseo. A princesa, se ainda hoje vivesse, poderia brincar com as flores de amendoeira como com os flocos de neve.

Lenda do Mouro de Chapéu de Aba Larga
Segundo Ataíde de Oliveira, há também, no Castelo de Silves, a lenda de um mouro encantado. Ele apareceria, com o seu amplo chapéu de aba larga, de manha, na porta norte do Castelo, desafiando as pobres lavadeiras que iam lavar às pequenas toalhas de água que por ai surgiam. Dum modo geral, as lavadeiras faziam-lhe surriada e então ele vingava-se fazendo desencadear-se sobre elas torrenciais chuvas de pedra. Quando no Castelo foram instaladas as prisões, o mouro de chapéu de aba larga desapareceu. No entanto, os presos diziam que todas as noites sentiam, pela meia-noite, um estremecimento em todo o Castelo e ouviam, até de madrugada, o mouro remexendo em papeis velhos.

Lenda da Zorra Berradeira
É também lenda muito antiga de Silves a da Zorra Berradeira. Segundo esta lenda havia no Odelouca uma zorra berradeira que durante a noite atoava os ares com os seus berros. A zorra berradeira era um verdadeiro monstro. Com o aspecto de cabra, tinha silvos de fúria. Os seus berros, de noite, anunciavam desgraça iminente. Ninguém os queria ouvir. Contavam-se casos de pessoas que os tinham ouvido e logo, lhes haviam sucedido tremendos desastres, sobretudo mortes de entes queridos.

Lenda da Velha das Castanhas
No cerro, a ocidente da foz do Odelouca e em frente da Ilha de Nossa Senhora do Rosário existe uma furna conhecida por Furna da Velha das Castanhas. Diz-se que vivia aí uma velha muito feia e má que estava sempre assando castanhas. Quando algum barco aí passava, descendo o rio, deviam os que fossem nele, lançar-lhe uma moeda, sem o que a velha fazia bruxaria e metia o barco ao fundo. Esta lenda parece ter a sua origem num imposto de portagem, mas, por outro lado, liga-se misteriosamente com a da Zorra Berradeira, pois a furna tem também o nome de furna da zorra.

Lenda do Pego do Pulo
O Pego do Pulo, segundo informação, fica junto da Fonte Nova, na curva que o rio Arade faz, depois do Cais, para tomar o rumo de Matamouros. Diz a lenda que aí morreu Aben Afom, último Rei Árabe de Silves, quando procurava a salvação na fuga. Homens antigos de Silves asseguravam que à meia noite, na noite de S. João, se ouvia nitidamente nesse local, o ruído do galope do cavalo de Aben Afom até ao Pego, depois alguém bradar “ salta meu cavalo! “ e finalmente, o estrondo da queda do cavalo na água e o tropel do cavalo e do cavaleiro, enquanto outros galopavam fugindo dos portugueses.

Lenda do Monte das Cabeças
O Monte das Cabeças, que se ergue frente ao Enxerim, na parte oriental da ribeira, é também cenário de uma lenda ligada à noite de S. João. Cenas macabras aí têm lugar, segundo a tradição. Local de um antigo cemitério mouro, aí se deslocam os espíritas das famílias dos mortos, que nessa noite os vão visitar e aí convivem em animados bailes e festins, que muito amedrontam os habitantes da região, como é fácil de adivinhar. Gente antiga havia, que jurava a pés juntos ter assistido a esta lúgubre e aterradora visão.
http://www.jf-silves.pt/freguesia/historia.htm
http://www.tintazul.com.pt/castelos/far/slv/silves.html