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quarta-feira, 29 de maio de 2013
O SAL E A ÁGUA
Um rei tinha três filhas; perguntou a cada uma delas por sua vez, qual era a mais sua amiga. A mais velha respondeu:
– Quero mais a meu pai, do que à luz do Sol.
Respondeu a do meio:
– Gosto mais de meu pai do que de mim mesma.
A mais moça respondeu:
– Quero-lhe tanto, como a comida quer o sal.
O rei entendeu por isto que a filha mais nova o não amava tanto como as outras, e pô-la fora do palácio. Ela foi muito triste por esse mundo, e chegou ao palácio de um rei, e aí se ofereceu para ser cozinheira. Um dia veio à mesa um pastel muito bem feito, e o rei ao parti-lo achou dentro um anel muito pequeno, e de grande preço. Perguntou a todas as damas da corte de quem seria aquele anel. Todas quiseram ver se o anel lhes servia: foi passando, até que foi chamada a cozinheira, e só a ela é que o anel servia. O príncipe viu isto e ficou logo apaixonado por ela, pensando que era de família de nobreza.
Começou então a espreitá-la, porque ela só cozinhava às escondidas, e viu-a vestida com trajos de princesa. Foi chamar o rei seu pai e ambos viram o caso. O rei deu licença ao filho para casar com ela, mas a menina tirou por condição que queria cozinhar pela sua mão o jantar do dia da boda. Para as festas de noivado convidou-se o rei que tinha três filhas, e que pusera fora de casa a mais nova. A princesa cozinhou o jantar, mas nos manjares que haviam de ser postos ao rei seu pai não botou sal de propósito. Todos comiam com vontade, mas só o rei convidado é que não comia. Por fim perguntou-lhe o dono da casa, porque é que o rei não comia? Respondeu ele, não sabendo que assistia ao casamento da filha:
– É porque a comida não tem sal.
O pai do noivo fingiu-se raivoso, e mandou que a cozinheira viesse ali dizer porque é que não tinha botado sal na comida. Veio então a menina vestida de princesa, mas assim que o pai a viu, conheceu-a logo, e confessou ali a sua culpa, por não ter percebido quanto era amado por sua filha, que lhe tinha dito, que lhe queria tanto como a comida quer o sal, e que depois de sofrer tanto nunca se queixara da injustiça de seu pai.
– Quero mais a meu pai, do que à luz do Sol.
Respondeu a do meio:
– Gosto mais de meu pai do que de mim mesma.
A mais moça respondeu:
– Quero-lhe tanto, como a comida quer o sal.
O rei entendeu por isto que a filha mais nova o não amava tanto como as outras, e pô-la fora do palácio. Ela foi muito triste por esse mundo, e chegou ao palácio de um rei, e aí se ofereceu para ser cozinheira. Um dia veio à mesa um pastel muito bem feito, e o rei ao parti-lo achou dentro um anel muito pequeno, e de grande preço. Perguntou a todas as damas da corte de quem seria aquele anel. Todas quiseram ver se o anel lhes servia: foi passando, até que foi chamada a cozinheira, e só a ela é que o anel servia. O príncipe viu isto e ficou logo apaixonado por ela, pensando que era de família de nobreza.
Começou então a espreitá-la, porque ela só cozinhava às escondidas, e viu-a vestida com trajos de princesa. Foi chamar o rei seu pai e ambos viram o caso. O rei deu licença ao filho para casar com ela, mas a menina tirou por condição que queria cozinhar pela sua mão o jantar do dia da boda. Para as festas de noivado convidou-se o rei que tinha três filhas, e que pusera fora de casa a mais nova. A princesa cozinhou o jantar, mas nos manjares que haviam de ser postos ao rei seu pai não botou sal de propósito. Todos comiam com vontade, mas só o rei convidado é que não comia. Por fim perguntou-lhe o dono da casa, porque é que o rei não comia? Respondeu ele, não sabendo que assistia ao casamento da filha:
– É porque a comida não tem sal.
O pai do noivo fingiu-se raivoso, e mandou que a cozinheira viesse ali dizer porque é que não tinha botado sal na comida. Veio então a menina vestida de princesa, mas assim que o pai a viu, conheceu-a logo, e confessou ali a sua culpa, por não ter percebido quanto era amado por sua filha, que lhe tinha dito, que lhe queria tanto como a comida quer o sal, e que depois de sofrer tanto nunca se queixara da injustiça de seu pai.
AS TRÊS FILHAS
Era uma vez um homem que tinha três filhas.
Eram todas muito amigas dele, mas havia uma que ele estimava mais.
Foi um dia à feira e perguntou às filhas o que é que elas queriam de lá. Uma delas disse:
– Um chapéu e umas botas!
A outra disse também:
– Um vestido e um xaile!
Mas a que ele estimava mais não lhe disse nada.
O homem, muito admirado, perguntou:
– Ó minha filha, tu não queres nada?
– Não quero nada, disse ela. Quero que meu pai tenha saúde!
– Tu hás-de também pedir uma coisa, seja o que for, que eu trago-ta! respondeu o pai.
Ela, para que o pai a deixasse, disse então:
– Quero que meu pai me traga um corte de goraz em campo verde.
O homem foi para a feira, comprou todas as coisas que as filhas lhe tinham pedido, e não fazia senão procurar o corte de goraz em campo verde. Mas não o encontrou. Era coisa que não havia. Por isso vinha muito triste para casa, porque era a filha que ele mais estimava.
Quando vinha andando, aconteceu-lhe ver luzir uma luz no caminho, porque já era noite.
Foi andando, andando, até chegar àquela luz.
Era um pastor, que estava ali numa cabana. O homem chegou-se a ele e perguntou:
– Sabe-me dizer que palácio é aquele, e se me podiam dar agasalho!
O pastor respondeu muito admirado:
– Oh!, senhor, mas... naquele palácio não habita ninguém; aparece lá uma coisa, e todos têm medo de lá estar!
– Deixá-lo, disse o homem, não me hão-de comer, e como não tem ninguém, vou lá dormir esta noite!
Foi. Encontrou tudo iluminado e muito rico e, entrando mais para dentro, viu uma mesa posta. Quando se ia a chegar à mesa, ouviu uma voz dizer:
– Come e vai-te deitar naquela cama que ali está, e pela manhã levanta-te e leva o que está em cima daquela mesa, que é o que a tua filha te pediu, mas, ao fim de três dias, hás-de ma trazer aqui.
O homem ficou muito contente por levar à filha o que ela tinha pedido, mas ao mesmo tempo ficou triste pelo que a voz lhe tinha dito.
Deitou-se e ao outro dia levantou-se, foi direito à mesa e viu o corte de goraz em campo verde; agarrou nele e foi para casa.
Apenas chegou, começaram as filhas de roda dele:
– Meu pai, que é que nos trouxe? Deixe ver.
O pai deu-lhes tudo quanto trazia.
A outra filha, a que ele estimava mais, perguntou-lhe só se ele tinha saúde. O pai respondeu-lhe:
– Minha filha, venho contente e ao mesmo tempo triste! Aqui tens o teu pedido.
A filha respondeu-lhe:
– Oh! meu pai, eu tinha-lhe pedido isto, porque era coisa que não havia; mas porque é que vem tão triste?
– Porque tenho de levar-te ao fim de três dias aonde me deram isto!
E contou tudo o que lhe tinha acontecido no palácio e o que a voz lhe tinha dito. A filha, quando ouviu tudo, respondeu:
– Não esteja triste, meu pai, que eu vou, e há-de ser o que Deus quiser!
Assim foi. Ao fim de três dias o pai levou-a ao palácio encantado.
Estava tudo iluminado, a mesa posta e duas camas feitas.
Quando entraram, ouviram uma voz dizer:
– Come e deixa-te estar três dias com a tua filha, para ela não ter medo.
O homem esteve os três dias no palácio. No fim, foi-se embora, ficando a filha só
A voz falava com ela todos os dias, mas não se via ninguém.
Ao fim de uns poucos dias, a menina ouviu cantar um passarinho no jardim. A voz disse-lhe:
– Tu ouves o passarinho a cantar?
– Oiço, sim, disse a menina; é alguma novidade?
– É tua irmã mais velha que está para casar. E tu queres ir? perguntou a voz.
A menina, muito contente, disse:
– Eu quero, sim; e tu deixas-me Ir?
– Eu deixo, tornou a voz, mas tu não voltas!
– Volto, sim! – disse a menina.
A voz deu-lhe então um anel, para ela se não esquecer, e disse-lhe:
– Olha que ao fim de três dias vai um cavalo branco buscar-te; há-de bater três pancadas: a primeira é para te vestires, a segunda é para te despedires e a terceira é para te montares. Se às três não estiveres em cima do cavalo, ele vem-se embora e deixa-te lá!
A menina foi. Houve uma grande festa, e a irmã casou-se. Ao fim de três dias, foi o cavalo branco bater três pancadas. À primeira a menina começou a vestir-se, à segunda despediu-se e à terceira montou a cavalo.
A voz tinha dado à menina um caixote de dinheiro para levar ao pai e às irmãs, e por isso elas não queriam que ela tornasse para o palácio encantado, porque já estava multo rica.
Mas a menina lembrou-se do que tinha prometido, e apenas se viu em cima do cavalo foi-se embora.
No fim de certo tempo tornou o passarinho a cantar muito contente no jardim. A voz disse-lhe:
– Tu ouves o passarinho a cantar?
– Oiço, sim, disse a menina, é alguma novidade?
– É a outra tua irmã que está para casar. E tu queres ir? perguntou a voz.
A menina, muito contente, disse:
– Eu quero, sim; e tu deixas-me ir?
– Eu deixo, tornou a voz, mas tu não voltas!
– Volto, sim, disse a menina.
A voz disse, então:
– Olha que se ao fim de três dias não vieres, ficas lá, e serás a rapariga mais desgraçada que há no mundo
A menina foi. Houve uma grande festa, e a irmã casou-se. Ao fim de três dias veio o cavalo branco. Deu a primeira pancada, e a menina vestiu-se; deu a segunda, e a menina despediu-se; deu a terceira, e montou a cavalo e foi para o palácio.
Passados tempos tornou o passarinho a cantar no jardim, mas muito triste, muito triste.
A voz disse-lhe:
– Tu ouves o passarinho?
– Oiço, sim, disse a menina, é alguma novidade? É, sim, é o teu pai que está para morrer, e não morre
sem se despedir de ti!
– E tu deixa-me ir? perguntou a menina, muito triste.
– Deixo, sim, mas desta vez é que tu não voltas!
– Volto, sim, disse a menina.
A voz disse-lhe:
– Não voltas, não, que as tuas irmãs não te deixam vir! E tu e mais elas, serão as raparigas mais desgraçadas deste mundo, se não voltares ao fim de três dias!
A menina foi, o pai estava muito mal e não podia morrer, mas apenas se despediu dela, morreu.
As irmãs, como ela tinha perdido a noite, deram-lhe dormideiras e deixaram-na dormir.
A menina pediu muito que a acordassem antes de vir o cavalo branco.
As irmãs que fizeram? Não a acordaram e tiraram-lhe o anel do dedo.
Ao fim de três dias veio o cavalo. Bateu a primeira pancada, bateu a segunda, bateu a terceira e foi-se embora, e a menina ficou.
Ela andava muito satisfeita com as irmãs, porque não tinha o anel e já não se lembrava de coisa nenhuma.
Daí a uns poucos dias, começou a fortuna a andar para trás, a ela e às irmãs.
Até que uma vez as duas disseram-lhe:
– Mana, tu não te lembras do cavalo branco?
A menina lembrou-se, então, de tudo e disse a chorar:
– Ai. que desgraça a minha! Ai, que me desgraçaram! Que é do meu anel?
As irmãs deram-lhe o anel, e a menina, com muita pena, foi-se logo embora. Chegou ao palácio encantado, mas viu tudo muito triste, muito escuro e muito fechado.
Foi direita ao jardim e encontrou um bicho muito grande, estendido no chão. O bicho, apenas a viu, disse-lhe:
– Retira-te, tirana, que me dobraste o meu encanto! Agora serás a rapariga mais desgraçada do mundo, tu e as tuas irmãs!
O bicho estava a acabar e, assim que disse isto, morreu. A menina voltou para as irmãs, muito triste e a chorar multo, meteu-se em casa sem comer nem beber, e dali a dias morreu também.
As irmãs, essas ficaram cada vez mais pobres, por terem sido a causa disto tudo.
Eram todas muito amigas dele, mas havia uma que ele estimava mais.
Foi um dia à feira e perguntou às filhas o que é que elas queriam de lá. Uma delas disse:
– Um chapéu e umas botas!
A outra disse também:
– Um vestido e um xaile!
Mas a que ele estimava mais não lhe disse nada.
O homem, muito admirado, perguntou:
– Ó minha filha, tu não queres nada?
– Não quero nada, disse ela. Quero que meu pai tenha saúde!
– Tu hás-de também pedir uma coisa, seja o que for, que eu trago-ta! respondeu o pai.
Ela, para que o pai a deixasse, disse então:
– Quero que meu pai me traga um corte de goraz em campo verde.
O homem foi para a feira, comprou todas as coisas que as filhas lhe tinham pedido, e não fazia senão procurar o corte de goraz em campo verde. Mas não o encontrou. Era coisa que não havia. Por isso vinha muito triste para casa, porque era a filha que ele mais estimava.
Quando vinha andando, aconteceu-lhe ver luzir uma luz no caminho, porque já era noite.
Foi andando, andando, até chegar àquela luz.
Era um pastor, que estava ali numa cabana. O homem chegou-se a ele e perguntou:
– Sabe-me dizer que palácio é aquele, e se me podiam dar agasalho!
O pastor respondeu muito admirado:
– Oh!, senhor, mas... naquele palácio não habita ninguém; aparece lá uma coisa, e todos têm medo de lá estar!
– Deixá-lo, disse o homem, não me hão-de comer, e como não tem ninguém, vou lá dormir esta noite!
Foi. Encontrou tudo iluminado e muito rico e, entrando mais para dentro, viu uma mesa posta. Quando se ia a chegar à mesa, ouviu uma voz dizer:
– Come e vai-te deitar naquela cama que ali está, e pela manhã levanta-te e leva o que está em cima daquela mesa, que é o que a tua filha te pediu, mas, ao fim de três dias, hás-de ma trazer aqui.
O homem ficou muito contente por levar à filha o que ela tinha pedido, mas ao mesmo tempo ficou triste pelo que a voz lhe tinha dito.
Deitou-se e ao outro dia levantou-se, foi direito à mesa e viu o corte de goraz em campo verde; agarrou nele e foi para casa.
Apenas chegou, começaram as filhas de roda dele:
– Meu pai, que é que nos trouxe? Deixe ver.
O pai deu-lhes tudo quanto trazia.
A outra filha, a que ele estimava mais, perguntou-lhe só se ele tinha saúde. O pai respondeu-lhe:
– Minha filha, venho contente e ao mesmo tempo triste! Aqui tens o teu pedido.
A filha respondeu-lhe:
– Oh! meu pai, eu tinha-lhe pedido isto, porque era coisa que não havia; mas porque é que vem tão triste?
– Porque tenho de levar-te ao fim de três dias aonde me deram isto!
E contou tudo o que lhe tinha acontecido no palácio e o que a voz lhe tinha dito. A filha, quando ouviu tudo, respondeu:
– Não esteja triste, meu pai, que eu vou, e há-de ser o que Deus quiser!
Assim foi. Ao fim de três dias o pai levou-a ao palácio encantado.
Estava tudo iluminado, a mesa posta e duas camas feitas.
Quando entraram, ouviram uma voz dizer:
– Come e deixa-te estar três dias com a tua filha, para ela não ter medo.
O homem esteve os três dias no palácio. No fim, foi-se embora, ficando a filha só
A voz falava com ela todos os dias, mas não se via ninguém.
Ao fim de uns poucos dias, a menina ouviu cantar um passarinho no jardim. A voz disse-lhe:
– Tu ouves o passarinho a cantar?
– Oiço, sim, disse a menina; é alguma novidade?
– É tua irmã mais velha que está para casar. E tu queres ir? perguntou a voz.
A menina, muito contente, disse:
– Eu quero, sim; e tu deixas-me Ir?
– Eu deixo, tornou a voz, mas tu não voltas!
– Volto, sim! – disse a menina.
A voz deu-lhe então um anel, para ela se não esquecer, e disse-lhe:
– Olha que ao fim de três dias vai um cavalo branco buscar-te; há-de bater três pancadas: a primeira é para te vestires, a segunda é para te despedires e a terceira é para te montares. Se às três não estiveres em cima do cavalo, ele vem-se embora e deixa-te lá!
A menina foi. Houve uma grande festa, e a irmã casou-se. Ao fim de três dias, foi o cavalo branco bater três pancadas. À primeira a menina começou a vestir-se, à segunda despediu-se e à terceira montou a cavalo.
A voz tinha dado à menina um caixote de dinheiro para levar ao pai e às irmãs, e por isso elas não queriam que ela tornasse para o palácio encantado, porque já estava multo rica.
Mas a menina lembrou-se do que tinha prometido, e apenas se viu em cima do cavalo foi-se embora.
No fim de certo tempo tornou o passarinho a cantar muito contente no jardim. A voz disse-lhe:
– Tu ouves o passarinho a cantar?
– Oiço, sim, disse a menina, é alguma novidade?
– É a outra tua irmã que está para casar. E tu queres ir? perguntou a voz.
A menina, muito contente, disse:
– Eu quero, sim; e tu deixas-me ir?
– Eu deixo, tornou a voz, mas tu não voltas!
– Volto, sim, disse a menina.
A voz disse, então:
– Olha que se ao fim de três dias não vieres, ficas lá, e serás a rapariga mais desgraçada que há no mundo
A menina foi. Houve uma grande festa, e a irmã casou-se. Ao fim de três dias veio o cavalo branco. Deu a primeira pancada, e a menina vestiu-se; deu a segunda, e a menina despediu-se; deu a terceira, e montou a cavalo e foi para o palácio.
Passados tempos tornou o passarinho a cantar no jardim, mas muito triste, muito triste.
A voz disse-lhe:
– Tu ouves o passarinho?
– Oiço, sim, disse a menina, é alguma novidade? É, sim, é o teu pai que está para morrer, e não morre
sem se despedir de ti!
– E tu deixa-me ir? perguntou a menina, muito triste.
– Deixo, sim, mas desta vez é que tu não voltas!
– Volto, sim, disse a menina.
A voz disse-lhe:
– Não voltas, não, que as tuas irmãs não te deixam vir! E tu e mais elas, serão as raparigas mais desgraçadas deste mundo, se não voltares ao fim de três dias!
A menina foi, o pai estava muito mal e não podia morrer, mas apenas se despediu dela, morreu.
As irmãs, como ela tinha perdido a noite, deram-lhe dormideiras e deixaram-na dormir.
A menina pediu muito que a acordassem antes de vir o cavalo branco.
As irmãs que fizeram? Não a acordaram e tiraram-lhe o anel do dedo.
Ao fim de três dias veio o cavalo. Bateu a primeira pancada, bateu a segunda, bateu a terceira e foi-se embora, e a menina ficou.
Ela andava muito satisfeita com as irmãs, porque não tinha o anel e já não se lembrava de coisa nenhuma.
Daí a uns poucos dias, começou a fortuna a andar para trás, a ela e às irmãs.
Até que uma vez as duas disseram-lhe:
– Mana, tu não te lembras do cavalo branco?
A menina lembrou-se, então, de tudo e disse a chorar:
– Ai. que desgraça a minha! Ai, que me desgraçaram! Que é do meu anel?
As irmãs deram-lhe o anel, e a menina, com muita pena, foi-se logo embora. Chegou ao palácio encantado, mas viu tudo muito triste, muito escuro e muito fechado.
Foi direita ao jardim e encontrou um bicho muito grande, estendido no chão. O bicho, apenas a viu, disse-lhe:
– Retira-te, tirana, que me dobraste o meu encanto! Agora serás a rapariga mais desgraçada do mundo, tu e as tuas irmãs!
O bicho estava a acabar e, assim que disse isto, morreu. A menina voltou para as irmãs, muito triste e a chorar multo, meteu-se em casa sem comer nem beber, e dali a dias morreu também.
As irmãs, essas ficaram cada vez mais pobres, por terem sido a causa disto tudo.
GUARDADORA DE PATOS
Era uma vez uma velha, muito velha e encarquilhada. Vivia com seu bando de gansos, num sítio selvagem, em meio das montanhas.
A velha choupana em que habitava era rodeada por densa floresta e todas as manhãs, a velhinha, apoiada à sua muleta ia apanhar ervas e frutos silvestres que lhe ficassem ao alcance da mão.
Na volta para casa, vergada com o peso do fardo, arrastava-se com dificuldade. Se encontrava alguém no caminho, falava-lhe com o melhor modo quer tinha.
Apesar das suas falas doces, ninguém, na região, gostava de se cruzar com ela e as mães diziam aos filhos:
- Desconfiem sempre desta velha; é uma bruxa.
Certa manhã um belo moço passou pela floresta. O sol brilhava, os pássaros cantavam e no ar havia como que uma canção de alegria e felicidade.
Desde que entrara na floresta não encontrara ainda ninguém. De repente avistou a bruxa que, de joelhos, se esforçava por atar um molho de ervas. A seu lado havia outro molho, dois grandes cestos e um lenço cheio de frutos silvestres.
- Bom dia Tiazinha! Como vai vocemecê levar todas essas coisas?
- Que remédio! Os ricos não precisam dobrar a espinha ao peso dos duros fardos. Mas nós!.
Depois, vendo-o parado, diante dela, pediu-lhe:
- Não poderia ajudar-me? Bem se vê que é um rapaz forte: ombros largos, pernas rijas, e este fardo não seria nada para si. De mais a mais a minha choupana fica perto!
Condoído, o moço, prontificou-se a levar-lhe o molho de ervas e enquanto lhe pegava ia dizendo:
Muito embora meu pai seja um conde muito rico não me pesa fazer este pequeno serviço.
- Muito obrigada, meu senhor. Já agora tende também a bondade de me levar os cestos. Na verdade daqui a minha casa ainda vai uma boa hora de caminho, mas isso o que é para vós?
O conde começava a não gostar da aventura, mas foi recebendo o molho de ervas que ela lhe aconchegava nas costas e mais os dois cestos que, metia um em cada braço, ao passo que o encorajava dizendo:
- Não é muito pesado, pois não?
- Pelo contrário. Acho isto terrivelmente pesado. Dir-se-ia que em vez de ervas levo pedras às costas.
Mais de uma vez esteve o nosso conde tentado a deitar a carga ao chão mas a velha de tal modo troçava da sua fraqueza que o desgraçado, fazendo das tripas coração, lá se ia aguentando, embora o suor lhe corresse das fontes e as pedras rolassem sob os seus pés.Quanto mais o conde sucumbia mais lesta e risonha parecia a velha até que, em dada altura, armou um pulo e foi-se encarrapitar em cima do molho de erva, o que fez o conde gemer e dobrar os joelhos como quem vai a cair.
Para o incitar, a velha batia-lhe com um ramo de ortigas. O desgraçado subiu a montanha, desceu pelo outro declive, chegando finalmente à casa da bruxa.
À chegada da velha, os gansos estenderam os pescoços e foram ao seu encontro de asas abertas. Atrás do bando de gansos vinha uma forte e feia mulher do campo com uma vara na mão.
- Bom dia, mãe. Demorou-se muito esta manhã.
- Pelo contrário. Com a ajuda deste belo moço que se encarregou de trazer o meu fardo, devo ter chegado mais cedo. Foi tão amável este senhor que, não contente de carregar com a erva e os cestos, ainda me trouxe parte do caminho às costas. Rimos e conversámos de tal modo que, pelo que vejo, o caminho nos pareceu bastante curto.
- Agora sente-se aí no banco de pedra que está junto à casa afim de repousar um pouco e esperar um pouco pela recompensa que bem a mereceu – disse a bruxa ao conde.
- E tu, minha filha, entra em casa não vá este senhor perder-se de amores por ti.
O sítio era aprazível, corria um certo vento fresco e o pobre conde sentia-se de tal maneira fatigado que daí a pouco dormia que nem um justo. Foi preciso a velha vir acordá-lo.
- Bem, já se refez do cansaço, agora pode partir mas primeiro quero dar-lhe uma lembrança que lhe faça esquecer o meu estranho procedimento.
E dizendo isto a velha meteu-lhe na mão um belo estojo feito duma esplêndida esmeralda.
O conde pôs-se de pé e imediatamente se sentiu refeito da fadiga.
Agradeceu à velha e partiu, cheio de forças sem sequer lançar o mais pequeno olhar à filha da bruxa que estava à porta da cabana.
Durante três dias errou o conde, perdido na floresta até que finalmente chegou a uma terra desconhecida onde o levaram à presença do rei e da rainha.
O fidalgo após a vénia do estilo, depositou nas mãos da rainha a esmeralda, mas, aquela ao abrir o estojo deu um grito e caiu desmaiada. Mal veio a si pediu que a deixassem só com o conde que, por ordem d’el-rei ia ser conduzido à prisão.
- Ai de mim! – disse a rainha ao jovem conde. Por maiores que sejam, o luxo que me cerca e as honras que me dispensam, nada é comparado à minha dor.
- Tive três filhas belas como o sol que hoje nos alumia. A mais nova não só era a mais bela como de seus olhos caíam, as poucas vezes que chorava, pérolas duma rara beleza. Um dia o rei mandou chamar as princesas e falou-lhes desta maneira:
- Minhas queridas filhas! Não sei quando será o último dia da minha vida, por isso quero decidir, desde hoje, qual de vós terá a melhor parte da minha herança. Aquela que maior amor me tiver essa será a escolhida.
Todas três afirmavam que o amavam mais que do tudo na vida.
- Mas dizei como – insistia o rei.
- Gosto do meu pai como gosto do mel – disse a mais velha.
- E eu como do mais belo vestido – disse a do meio.
- E eu gosto do meu pai como do sal – volveu a mais novinha.
O rei ficou furioso. Repartiu o reino entre as duas filhas mais velhas e mandou que levassem a mais nova para o fundo da floresta, com um saco de sal às costas.
Não tardou que o rei se arrependesse do que fizera e mandasse emissários em procura da filha, mas todos voltavam sem saberem dela.
- Imaginai portanto qual não foi a minha surpresa quando vi dentro da esmeralda que me oferecesteis uma pérola igual às que corriam dos olhos da minha querida filha.
- Contai-me, pois, como ela vos veio parar às mãos – pediu a rainha.
O conde contou à rainha a estranha aventura da floresta e ficou decidido que ela e o rei iriam, com ele, até à cabana da feiticeira.
Enquanto isto se passava a velha fiava numa roca. Era ao cair da noite. Um toro de madeira enresinada, já meio queimado iluminava tristemente a cena. Os gansos grasnavam e a velha continuava fiando. Nisto aproximou-se dela a feia camponesa que se sentou a fiar também.
Daí a instantes uma coruja piou sinistramente.
- São horas minha filha – disse a bruxa.
A feia camponesa levantou-se, atravessou prados e prados até chegar a um poço fundo, junto ao qual tirou a pele que lhe cobria o rosto. Lavou-se, lavou a pele que estendeu ao luar, sacudiu a cabeleira luminosa como raios de sol, ergueu os olhos brilhantes como as estrelas, sentou-se no chão e chorou, chorou aflitivamente.
Nisto ouviu barulho de passos e, assustada, enfiou a horrível pele que a tornava tão feia.
Chegou a casa cansada de ter corrido tanto e ficou muito admirada que a velha estivesse a varrer e a arrumar a casa a uma hora tão tardia.
- Esqueces-te que faz hoje precisamente três anos que te recolhi? E que não podemos continuar a viver juntas?
- Como? Manda-me embora? Para onde irei? Não tenho parentes, nem amigos, nem pátria.
A velha continuou calada. Via-se que não queria dar nenhuma explicação.
Passados uns momentos disse à filha:
- Vai para o teu quarto e tira a pele que tanto te desfigura. Põe o vestido de seda que trazias quando aqui chegaste e espera que te chamem.
Deixemos por momentos a velha e a filha na sua casita e vejamos o que faziam o rei, a rainha e o conde. Os três vaguearam pela floresta em procura da choupana da bruxa até que o fidalgo, perdido no emaranhado da floresta, trepou a uma árvore e de lá pôde assistir à cena que se passou junto ao poço. Foi ele também, que ao querer ver melhor a jovem menina, fizera barulho e a assustara a ponto dela correr até casa da velha.
O rei e a rainha, postos ao facto do assunto não duvidaram mais que aquela menina fosse a sua querida filha.
Continuaram a caminhar pelo bosque até que chegaram à choupana da brux
- Entrem, entrem que serão benvindos mas devo dizer-vos que bem escusada seria esta caminhada, se há três anos o rei não tivesse cometido a injustiça que cometeu.
- Vem minha querida, vem – gritou a velha para o interior da casa.
A porta abriu-se e a princesa apareceu em toda a sua radiosa beleza.
O conde a um canto olhava-a aturdido.
- Minha querida filha, que te hei-de dar agora, que já dividi o meu reino? – proferiu o rei.
- Vossa filha, Senhor, não precisa de nada. Rica é ela com o tesouro das lágrimas que chorou por vossa causa. Guardei-as todas. E que lindas pérolas são. Para que se lembre sempre de mim deixo-lhe a minha pobre choupana.
Mal dissera estas palavras a velha desapareceu. E a cabana transformou-se num sumptuoso palácio.
Dizem que, mais tarde a princesa casou com o conde e, ouvi também contar, que os gansos eram lindas jovens encantadas, que ficaram fazendo parte da comitiva da princesa.
A velhinha e a cabaça
Era uma vez uma velhinha que vivia sozinha numa pequena casa junto a um bosque onde ela gostava muito de passear.
Um dia quando ia para o casamento da sua filha teve que atravessar todo o bosque a pé.
Ia ela a apreciar o passeio quando encontrou uma raposa, que lhe disse:
– Vou-te comer velhinha
– Não faças isso agora – respondeu a velhinha – é que eu vou ao casamento da minha filha, quando voltar venho mais gordinha.
E a raposa deixou-a continuar o seu caminho.
Um pouco mais à frente encontrou um grande lobo.
– Não passas aqui sem que eu te coma – disse o lobo.
A velhinha respondeu:
– Agora não, eu vou ao casamento da minha filha e vou voltar mais gordinha.
E o lobo também a deixou ir embora.
No casamento da filha a velhinha divertiu-se muito e comeu muito também.
Quando já estava para ir embora e voltar para casa, lembrou-se do lobo e da raposa que estavam à espera dela. Então contou a história à filha e ficaram as duas a pensar numa forma para a velhinha voltar para casa sem ser vista.
Foram então à procura de alguma coisa onde a velhinha se pudesse esconder, experimentaram vários objectos, panelas, barris, e então encontraram uma grande cabaça onde ela cabia e conseguia espreitar para poder ver.
No caminho de volta para casa a velhinha ia rodando a cabaça.
Quando passou pelo lobo eu perguntou:
– Viste por ai uma velhinha?
– Nem velhinha nem velhão, roda cabacinha, roda cabação – respondeu-lhe a velhinha.
E continuo o seu caminho escondida dentro da cabaça.
Já ia um pouco mais descansada por ter conseguido enganar o lobo, quando a raposa se pôs no seu caminho.
– Viste por ai uma velhinha? – perguntou-lhe a raposa.
A velhinha respondeu:
– Nem velhinha nem velhão, roda cabacinha, roda cabação
Pouco depois chegou a casa em segurança, bateu com a cabaça numa grande pedra que estava perto da porta e saiu de lá de dentro.
A velhinha continuo a dar os seus passeios, mas noutro sítio do bosque para não se cruzar novamente com o lobo e a raposa e eles ainda hoje continuam à espera que a velhinha volte do casamento da filha.
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O que Deus faz é pelo melhor
O que Deus faz é pelo melhor
Havia um médico, homem bom e sem malícia, na corte de um poderoso rei. Visitando Sua Alteza, ainda que o achasse afligido com qualquer trabalho ou dor, não mostrava entristecer-se. Aplicava os remédios que entendia lhe eram necessários, e consolava o rei, dizendo que não se agastasse e sofresse seu trabalho com paciência, porque tudo o que Deus faz é pelo melhor.
Aconteceu de morrer o príncipe herdeiro do reino, pelo que o rei ficou muito triste. Querendo o médico visitá-lo e consolá-lo, como todos faziam, o fez com as palavras de seu costume, dizendo-lhe:
— Senhor, não vos agasteis tanto, a ponto de prejudicar a vossa pessoa. Tudo que Deus faz é pelo melhor.
O rei não teve paciência ao ouvir este dito em tal ocasião, e pensou:
— O que poderia ser pior para o príncipe meu filho, do que morrer? Vou me vingar deste médico insolente. Vejamos se lhe será melhor a morte que lhe mandarei dar do que deixá-lo viver.
Chamou dois homens, e ordenou:
— Ide atrás do médico que acabou de sair, e dizei-lhe que quereis dar um recado meu. Quando estiverdes diante dele, matai-o, por ordem minha.
Os homens foram à casa do médico, e achando a porta da escada fechada, gritaram que traziam um recado do rei. Alvoroçado com isto, o médico colocou o sobretudo e desceu para abrir a porta. Mas, com a pressa de descer, o sobretudo agarrou no corrimão da escada, ele caiu e quebrou a perna. Ouvindo seus gritos de dor, os servidores da casa vieram e o tiraram dali, levando-o para a cama. A dona da casa explicou aos emissários do rei o que acontecera, e eles voltaram para explicar tudo ao rei.
O médico permaneceu mais de seis meses na cama. Quando sarou, levantou-se e foi mancando à presença do rei. Vendo-lhe o defeito, o rei quis consolá-lo, mas o médico se adiantou e disse:
— Não me aborreço com isso, porque o que Deus faz é pelo melhor.
Ouvindo isso, o rei concluiu que ele aplicava essa norma sábia também a si próprio, e o teve dali por diante por bom homem. Perdeu o rancor que contra ele tinha, e viu também que na verdade foi melhor ele ter quebrado a perna, pois do contrário teria morrido.
O que Deus faz é pelo melhor
Havia um médico, homem bom e sem malícia, na corte de um poderoso rei. Visitando Sua Alteza, ainda que o achasse afligido com qualquer trabalho ou dor, não mostrava entristecer-se. Aplicava os remédios que entendia lhe eram necessários, e consolava o rei, dizendo que não se agastasse e sofresse seu trabalho com paciência, porque tudo o que Deus faz é pelo melhor.
Aconteceu de morrer o príncipe herdeiro do reino, pelo que o rei ficou muito triste. Querendo o médico visitá-lo e consolá-lo, como todos faziam, o fez com as palavras de seu costume, dizendo-lhe:
— Senhor, não vos agasteis tanto, a ponto de prejudicar a vossa pessoa. Tudo que Deus faz é pelo melhor.
O rei não teve paciência ao ouvir este dito em tal ocasião, e pensou:
— O que poderia ser pior para o príncipe meu filho, do que morrer? Vou me vingar deste médico insolente. Vejamos se lhe será melhor a morte que lhe mandarei dar do que deixá-lo viver.
Chamou dois homens, e ordenou:
— Ide atrás do médico que acabou de sair, e dizei-lhe que quereis dar um recado meu. Quando estiverdes diante dele, matai-o, por ordem minha.
Os homens foram à casa do médico, e achando a porta da escada fechada, gritaram que traziam um recado do rei. Alvoroçado com isto, o médico colocou o sobretudo e desceu para abrir a porta. Mas, com a pressa de descer, o sobretudo agarrou no corrimão da escada, ele caiu e quebrou a perna. Ouvindo seus gritos de dor, os servidores da casa vieram e o tiraram dali, levando-o para a cama. A dona da casa explicou aos emissários do rei o que acontecera, e eles voltaram para explicar tudo ao rei.
O médico permaneceu mais de seis meses na cama. Quando sarou, levantou-se e foi mancando à presença do rei. Vendo-lhe o defeito, o rei quis consolá-lo, mas o médico se adiantou e disse:
— Não me aborreço com isso, porque o que Deus faz é pelo melhor.
Ouvindo isso, o rei concluiu que ele aplicava essa norma sábia também a si próprio, e o teve dali por diante por bom homem. Perdeu o rancor que contra ele tinha, e viu também que na verdade foi melhor ele ter quebrado a perna, pois do contrário teria morrido.
Aconteceu de morrer o príncipe herdeiro do reino, pelo que o rei ficou muito triste. Querendo o médico visitá-lo e consolá-lo, como todos faziam, o fez com as palavras de seu costume, dizendo-lhe:
— Senhor, não vos agasteis tanto, a ponto de prejudicar a vossa pessoa. Tudo que Deus faz é pelo melhor.
O rei não teve paciência ao ouvir este dito em tal ocasião, e pensou:
— O que poderia ser pior para o príncipe meu filho, do que morrer? Vou me vingar deste médico insolente. Vejamos se lhe será melhor a morte que lhe mandarei dar do que deixá-lo viver.
Chamou dois homens, e ordenou:
— Ide atrás do médico que acabou de sair, e dizei-lhe que quereis dar um recado meu. Quando estiverdes diante dele, matai-o, por ordem minha.
Os homens foram à casa do médico, e achando a porta da escada fechada, gritaram que traziam um recado do rei. Alvoroçado com isto, o médico colocou o sobretudo e desceu para abrir a porta. Mas, com a pressa de descer, o sobretudo agarrou no corrimão da escada, ele caiu e quebrou a perna. Ouvindo seus gritos de dor, os servidores da casa vieram e o tiraram dali, levando-o para a cama. A dona da casa explicou aos emissários do rei o que acontecera, e eles voltaram para explicar tudo ao rei.
O médico permaneceu mais de seis meses na cama. Quando sarou, levantou-se e foi mancando à presença do rei. Vendo-lhe o defeito, o rei quis consolá-lo, mas o médico se adiantou e disse:
— Não me aborreço com isso, porque o que Deus faz é pelo melhor.
Ouvindo isso, o rei concluiu que ele aplicava essa norma sábia também a si próprio, e o teve dali por diante por bom homem. Perdeu o rancor que contra ele tinha, e viu também que na verdade foi melhor ele ter quebrado a perna, pois do contrário teria morrido.
O ermitão e o ladrão
Numa ermida morava um virtuoso ermitão, ao qual se chegou um salteador de caminhos, dizendo-lhe:
— Vós rogais a Deus por todos. Rogai-Lhe que me tire deste mau ofício que trago, senão eu vos hei de matar.
Saindo dali, tornava a fazer o mesmo que dantes, e outra vez tornava a vir ao eremita, dizendo:
— Vós não quereis rogar a Deus por mim, pois hei de vos matar.
Tantas vezes fez isto, que uma vez veio decidido a matar o eremita. Diante dessa decisão, o eremita propôs:
— Já que me queres matar, tiremos primeiro ambos uma pedra que tenho sobre minha sepultura. Depois de morto, lançar-me-ás dentro sem muito trabalho.
Ele aceitou, e assim foram ambos erguer a pedra. Porém, enquanto o salteador trabalhava quanto podia para erguê-la, o ermitão trabalhava para que ela não se erguesse. E desta maneira não faziam nenhuma mudança na posição da pedra.
O salteador deu pela coisa, e disse:
— Do modo como vós me ajudais, como posso eu erguê-la? Eu levanto a minha parte, mas vós inutilizais o meu esforço.
Antes que ele prosseguisse, o ermitão explicou:
— E agora vamos ao que nos interessa. Que me adianta rogar a Deus por ti, pedindo-lhe que te tire do pecado e mau ofício que trazes, se tu não te queres tirar e estás muito de propósito perseverando nele?
(recolha de Teófilo Braga)
Sempre Não
Um cavaleiro, casado com uma dama nobre e formosa, teve de ir fazer uma longa jornada: receando acontecesse algum caso desagradável enquanto estivesse ausente, fez com que a mulher lhe prometesse que enquanto ele estivesse fora de casa diria a tudo: – Não. Assim pensava o cavaleiro que resguardaria o seu castelo do atrevimento dos pajens ou de qualquer aventureiro que por ali passasse. O cavaleiro já havia muito que se demorava na corte, e a mulher aborrecida na solidão do castelo não tinha outra distracção senão passar as tardes a olhar para longe, da torre do miradouro. Um dia passou um cavaleiro, todo galante, e cumprimentou a dama: ela fez-lhe a sua mesura. O cavaleiro viu-a tão formosa, que sentiu logo ali uma grande paixão, e disse:
– Senhora de toda a formosura! Consentis que descanse esta noite no vosso solar?
Ela respondeu:
– Não!
O cavaleiro ficou um pouco admirado da secura daquele não, e continuou:
– Pois quereis que seja comido dos lobos ao atravessar a serra?
Ela respondeu:
– Não.
Mais pasmado ficou o cavaleiro com aquela mudança, e insistiu:
– E quereis que vá cair nas mãos dos salteadores ao passar pela floresta?
Ela respondeu:– Não.
Começou o cavaleiro a compreender que aquele Não seria talvez sermão encomendado, e virou as suas perguntas:
– Então fechais-me o vosso castelo?
Ela respondeu:
– Não.
– Recusais que pernoite aqui?
– Não.
Diante destas respostas o cavaleiro entrou no castelo e foi conversar com a dama e a tudo o que lhe dizia ela foi sempre respondendo
– Não.
Quando no fim do serão se despediam para se recolherem a suas câmaras, disse o cavaleiro:
– Consentis que eu fique longe de vós?
Ela respondeu:
– Não.
– E que me retire do vosso quarto?
– Não.
O cavaleiro partiu, e chegou à corte, onde estavam muitos fidalgos conversando ao braseiro, e contando as suas aventuras. Coube a vez ao que tinha chegado, e contou a história do Não; mas quando ia já a contar a modo como se metera na cama da castelã, o marido já sem ter mão em si, perguntou agoniado:
– Mas onde foi isso cavaleiro?
O outro percebeu a aflição do marido e continuou sereno:
– Ora quando ia eu a entrar para o quarto da dama, tropeço no tapete, sinto um grande solavanco, e acordo! Fiquei desesperado em interromper-se um sonho tão lindo.
O marido respirou aliviado, mas de todas as histórias foi aquela a mais estimada.
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Sopa de Pedra
O caldo de pedra
Um frade andava no peditório. Chegou à porta de um lavrador, mas não lhe quiseram aí dar nada.
O frade estava a cair de fome e disse:
-Vou ver se faço um caldinho de pedra.
E pegou numa pedra do chão, sacudiu-lhe a terra e pôs-se a olhar para ela, como para ver se era boa para um caldo.
A gente da casa pôs-se a rir do frade e daquela lembrança. Diz o frade:
-Então nunca comeram caldo de pedra? Só lhes digo que é uma coisa muito boa.
Responderam-lhe:
-Sempre queremos ver isso.
Foi o que o frade quis ouvir. Depois de ter lavado a pedra, pediu:
-Se me emprestassem aí um pucarinho...
Deram-lhe uma panela de barro. Ele encheu-a de água e deitou-lhe a pedra dentro.
-Agora, se me deixassem estar a panelinha aí, ao pé das brasas...
Deixaram. Assim que a panela começou a chiar, disse ele:
-Com um bocadinho de unto é que o caldo ficava a primor!
Foram-lhe buscar um pedaço de unto. Ferveu, ferveu, e a gente da casa pasmada com o que via.
O frade, provando o caldo:
-Está um nadinha insosso. Bem precisa duma pedrinha de sal.
Também lhe deram o sal. Temperou, provou e disse:
-Agora é que, com uns olhinhos de couve, ficava que até os anjos o comeriam.
A dona da casa foi à horta e trouxe-lhe duas couves. O frade limpou-as, ripou-as com os dedos e deitou as folhas na panela. Quando os olhos já estavam aferventados, arriscou:
-Ai! Um naquinho de chouriça é que lhe dava uma graça!...
Trouxeram-lhe um pedaço de chouriço. Ele pô-lo na panela e, enquanto se cozia, tirou do alforge pão e arranjou-se para comer com vagar. O caldo cheirava que era um regalo.
Comeu e lambeu o beiço.
Depois de despejada a panela, ficou a pedra no fundo.
A gente da casa, que estava com os olhos nele, perguntou-lhe:
-Ó senhor frade, então a pedra?
A pedra... Lavo-a e levo-a comigo para outra vez.
E assim comeu onde não lhe queriam dar nada.
Teófilo Braga
Contos Tradicionais Portugueses
Um frade andava no peditório. Chegou à porta de um lavrador, mas não lhe quiseram aí dar nada.
O frade estava a cair de fome e disse:
-Vou ver se faço um caldinho de pedra.
E pegou numa pedra do chão, sacudiu-lhe a terra e pôs-se a olhar para ela, como para ver se era boa para um caldo.
A gente da casa pôs-se a rir do frade e daquela lembrança. Diz o frade:
-Então nunca comeram caldo de pedra? Só lhes digo que é uma coisa muito boa.
Responderam-lhe:
-Sempre queremos ver isso.
Foi o que o frade quis ouvir. Depois de ter lavado a pedra, pediu:
-Se me emprestassem aí um pucarinho...
Deram-lhe uma panela de barro. Ele encheu-a de água e deitou-lhe a pedra dentro.
-Agora, se me deixassem estar a panelinha aí, ao pé das brasas...
Deixaram. Assim que a panela começou a chiar, disse ele:
-Com um bocadinho de unto é que o caldo ficava a primor!
Foram-lhe buscar um pedaço de unto. Ferveu, ferveu, e a gente da casa pasmada com o que via.
O frade, provando o caldo:
-Está um nadinha insosso. Bem precisa duma pedrinha de sal.
Também lhe deram o sal. Temperou, provou e disse:
-Agora é que, com uns olhinhos de couve, ficava que até os anjos o comeriam.
A dona da casa foi à horta e trouxe-lhe duas couves. O frade limpou-as, ripou-as com os dedos e deitou as folhas na panela. Quando os olhos já estavam aferventados, arriscou:
-Ai! Um naquinho de chouriça é que lhe dava uma graça!...
Trouxeram-lhe um pedaço de chouriço. Ele pô-lo na panela e, enquanto se cozia, tirou do alforge pão e arranjou-se para comer com vagar. O caldo cheirava que era um regalo.
Comeu e lambeu o beiço.
Depois de despejada a panela, ficou a pedra no fundo.
A gente da casa, que estava com os olhos nele, perguntou-lhe:
-Ó senhor frade, então a pedra?
A pedra... Lavo-a e levo-a comigo para outra vez.
E assim comeu onde não lhe queriam dar nada.
Teófilo Braga
Contos Tradicionais Portugueses
O Algar do Mouro
No caminho de Minde para Fonte da Serra existe um algar com uns degraus cavados na rocha. Esta caverna está ligada a uma velha lenda de mouros... Em tempos que já lá vão, havia neste local um palácio encantado onde vivia um velho mouro e a sua formosa sobrinha, facto este testemunhado pelos pastores e caminhantes. Um dia uma mulher do povo surpreendeu a moura a limpar o seu tesouro e, assaltada por um desejo irresistível, decidiu vigiá-la para aproveitar a melhor altura de deitar mãos a tanta riqueza. Um dia viu que o mouro e a sobrinha estavam à porta da caverna e, aproximando-se sem ser vista, surpreendeu a conversa entre os dois. O tio não concordava em deixar partir a sua sobrinha para uma visita a umas primas. O velho tio temia morrer de repente e queria revelar-lhe o paradeiro de todos os seus tesouros escondidos, que eram muitos. Finalmente concordou e deixou-a partir com a sua aia. Sabendo que o mouro ficava sozinho, a mulher voltou no dia seguinte com o seu marido e atacaram ambos o velho mouro, que caiu sem sentidos. Sem coragem para continuar naquela caverna escura, decidiram voltar mais tarde para levar o tesouro. Mas quando lá chegaram no dia seguinte, depararam com um pote de ferro que em vão tentaram abrir. Voltaram ao outro dia preparados com ferramentas mas não encontraram qualquer tesouro. A moura tinha voltado e escondeu toda a riqueza do seu tio noutro local.
Lenda do Alfageme de Santarém
Fernão Lopes, na sua Crónica do Condestável, deixou para a posteridade esta lenda do alfageme Fernão Vaz, o mais reputado da região de Santarém, que à custa de muito trabalho tinha amealhado uma pequena fortuna que, diziam as más línguas, lhe tinha permitido casar com a bela Alda Gonçalves, que em tempos tinha sido uma apaixonada de D. Nuno Álvares Pereira, o Condestável. Ora aconteceu que um dia D. Nuno Álvares Pereira apareceu à porta de Fernão Vaz e lhe pediu para corrigir a espada. Estava o alfageme a esboçar uma desculpa porque já tinha chegado ao fim do seu dia de trabalho quando se deu conta de quem tinha na sua presença. Apresentou-se e disse-lhe que tinha casado com Alda Gonçalves, o que provocou uma certa emoção no Condestável que lhe deixou a espada para ser reparada. Quando o alfageme chegou a casa contou o sucedido a sua mulher que chegou a temer pela vida do seu marido, mas que logo sossegou quando este lhe disse que D. Nuno tinha vindo por bem. No dia seguinte, o alfageme entregou a espada ao Condestável mas não lhe quis cobrar pelo trabalho e que lhe disse que quando D. Nuno se tornasse conde de Ourém lhe pagaria o que ele merecesse.
Os tempos que se seguiram revelaram-se difíceis para o alfageme. Invejas e intrigas fizeram com que fosse preso e condenado à morte. Inconsolável, Alda decidiu procurar D. Nuno Álvares Pereira, agora conde de Ourém, e pedir-lhe ajuda embora temesse alguma despeita provocada pelo passado. Com grande nobreza de alma, o Condestável conseguiu o perdão real para Fernão Vaz, cumprindo-se assim a profecia do alfageme de Santarém.
Lenda de Santarém
Santarém foi uma antiga cidade lusitana antes de por ela passarem romanos, alanos, vândalos, suevos e árabes, tornando-se definitivamente cristã em 1147. A lenda de Santarém remonta ao ano 1215 a. C. quando reinava na Lusitânia o príncipe Gorgoris, chamado de "o Melícola" por ter ensinado o seu povo a extrair mel dos favos das abelhas. Um dia, Ulisses de Ítaca chegou à foz do Tejo com os seus navios onde decidiu descansar por algum tempo antes de regressar à Grécia. Hóspede de honra de Gorgoris, Ulisses conheceu a sua filha Calipso por quem se apaixonou. Dos amores de Ulisses e da bela Calipso nasceu um filho, Ábidis. Quando Gorgoris soube do sucedido perseguiu Ulisses para o castigar, mas este, avisado da fúria de Gorgoris, fugiu para Ítaca. Para esconder a desonra de sua filha, Gorgoris mandou que pusessem Ábidis dentro de um cesto e o atirassem ao Tejo. O cesto boiou nas águas e, em vez de se perder no mar, subiu pelo rio até encalhar perto de uma gruta que servia de covil a uma loba. A loba adoptou a criança, amamentou-a e protegeu-a. Ábidis tornou-se num belo rapaz que se alimentava de peixe do rio e frutos silvestres e estava habituado a conviver com os animais. Mas um dia, uns caçadores surpreenderam aquele rapaz selvagem, capturaram-no e levaram-no à presença de Calipso, sua mãe. Calipso reconheceu em Ábidis, através de um sinal de nascença, o seu filho abandonado. Quando soube que o neto tinha sido encontrado, Gorgoris que não tinha herdeiro varão, resolveu educá-lo como seu sucessor. Ábidis tornou-se assim no rei dos lusitanos, um rei justo, sábio e humano que mandou edificar uma cidade no sítio onde viveu os primeiros vinte anos da sua vida. A essa cidade chamou Esca-Ábidis, que significa manjar do príncipe Ábidis, o primeiro nome da cidade de Santarém cujos habitantes são hoje conhecidos por escalabitanos.
Beatriz e o Mouro
Em tempos que já lá vão, em que a Península Ibérica estava dividida entre os mouros e os descendentes dos visigodos, nasceu uma lenda de um amor destinado a ser impossível. Vivia então no Castelo de Almourol um nobre godo, de seu nome D. Ramiro, com a sua mulher e uma filha única chamada Beatriz. D. Ramiro era um chefe guerreiro que travava frequentes batalhas contra os mouros, tendo fama de impiedoso e cruel. Um dia voltava das sua guerras quando já próximo do seu castelo avistou duas belas mouras, mãe e filha, transportando água numa bilha. O nobre godo parou o seu cavalo e pediu-lhes de beber mas as mouras assustaram-se e deixaram cair a bilha de água que se partiu. O impaciente D. Ramiro ficou cheio de raiva e logo ali as matou com a sua lança, mas antes de morrer a moura mais jovem amaldiçoou o cavaleiro cristão e toda a sua descendência. Aos gritos de morte das mouras, acorreu um rapaz de onze anos, filho e irmão das infelizes, que ficou estarrecido perante o terrível e inevitável sucedido. D. Ramiro levou o jovem mouro como escravo para o castelo e pô-lo ao serviço de sua filha Beatriz. O mouro jurou vingar-se da morte das mulheres da sua família e, passados alguns anos, a mulher de D. Ramiro morreu envenenada, cumprindo-se assim a primeira parte da vingança. D. Ramiro, cheio de desgosto, resolveu ir combater os infiéis deixando Beatriz à guarda do mouro que não conseguiu cumprir a segunda parte da sua jura. Na verdade, Beatriz e o mouro apaixonaram-se perdidamente. Mas um dia D. Ramiro voltou ao seu castelo acompanhado pelo pretendente a quem tinha concedido a mão da sua filha. O apaixonado mouro preferia morrer a perder a sua Beatriz e contou-lhe a história da sua desgraça e as juras de vingança. Não se sabe muito bem o que se passou depois mas decerto que Beatriz lhe perdoou. A lenda conta que Beatriz e o mouro desapareceram como que por encanto e que D. Ramiro morreu pouco depois cheio de remorsos. Diz quem sabe, que no dia de S. João as almas do mouro e de Beatriz ainda hoje aparecem na torre do castelo, e que D. Ramiro, rojado a seus pés, pede eterno perdão pelos seus crimes.
Lenda de Santa Iria
Conta a história que na antiga Nabância (Tomar) nasceu Iria, uma bela jovem que desde cedo descobriu a sua vocação religiosa e entrou para um mosteiro. Esta região da Península Ibérica era governada pelo príncipe Castinaldo, cujo filho Britaldo tinha por hábito compor trovas junto da igreja de S. Pedro. Um dia, Britaldo viu Iria e ficou perdidamente apaixonado pela jovem, caindo doente, em estado febril e desesperado. Reclamava a presença da jovem insistentemente e, apesar de lhe dizerem que o seu amor era impossível, insistiu na sua presença. Os pais temendo o pior trouxeram-lhe a jovem que lhe pediu que a esquecesse, porque o seu coração e o seu amor eram de Deus. Britaldo concordou sob a condição de que Iria não pertencesse a mais nenhum homem. Passados tempos, Britaldo ouviu rumores infundados de que a jovem tinha atraiçoado a sua promessa e amava outro homem. Despeitado, seguiu-a num dos seus habituais passeios ao rio Nabão e ali a apunhalou, atirando-a à água. O corpo de Iria foi levado pelas águas até ao Zêzere e daí ao Tejo, vindo a ser encontrado junto da cidade de Scalabis (Santarém), encerrado num belo sepulcro de mármore. O povo rendeu-se ao milagre e a partir de então a cidade passou a chamar-se de Santa Iria e mais tarde Santarém. Cerca de seis séculos mais tarde as águas do Tejo voltaram a abrir-se para revelar o túmulo à rainha D. Isabel, que mandou colocar o padrão que ainda hoje se encontra na Ribeira de Santarém, para que o milagre não fosse esquecido.
LENDA DA FONTE MOURA
Lenda da Fonte da Moura
A muito antiga Fonte da Moura que ainda hoje existe nos arredores de Santarém tem na origem a história da perseguição dos Mouros por D. Afonso Henriques, após a conquista da cidade. Um grupo de cavaleiros, liderado pelo jovem rei, seguia já há dias pelos campos quando, cheios de sede, procuraram uma fonte. Foi então que surpreenderam uma jovem moura fugitiva que ao ser questionada onde ficaria a fonte mais próxima lhes disse que era muito longe, acrescentando em tom de desafio que se o Deus dos cristãos era tão poderoso que fizesse nascer ali mesmo uma fonte. Talvez então ela se convertesse. D. Afonso Henriques desceu do cavalo e retirou-se para rezar e, de repente, ouviu-se um som surdo e viu-se um jacto de água límpida e fresca que formou um pequeno regato. Os cavaleiros ajoelharam-se perante o milagre e a jovem moura, que chorava de emoção, prometeu dedicar a sua vida ao Deus cristão. A fonte ficou para sempre conhecida como a Fonte da Moura
A muito antiga Fonte da Moura que ainda hoje existe nos arredores de Santarém tem na origem a história da perseguição dos Mouros por D. Afonso Henriques, após a conquista da cidade. Um grupo de cavaleiros, liderado pelo jovem rei, seguia já há dias pelos campos quando, cheios de sede, procuraram uma fonte. Foi então que surpreenderam uma jovem moura fugitiva que ao ser questionada onde ficaria a fonte mais próxima lhes disse que era muito longe, acrescentando em tom de desafio que se o Deus dos cristãos era tão poderoso que fizesse nascer ali mesmo uma fonte. Talvez então ela se convertesse. D. Afonso Henriques desceu do cavalo e retirou-se para rezar e, de repente, ouviu-se um som surdo e viu-se um jacto de água límpida e fresca que formou um pequeno regato. Os cavaleiros ajoelharam-se perante o milagre e a jovem moura, que chorava de emoção, prometeu dedicar a sua vida ao Deus cristão. A fonte ficou para sempre conhecida como a Fonte da Moura
Lenda da Fundação do Mosteiro de Alcobaça
Mem Ramires e a Conquista de Santarém
Em 1147, a moura renegada Zuleiman apresentou-se nos paços de Coimbra na presença de D. Pedro Afonso, irmão do primeiro rei de Portugal, surpreendendo o infante com a revelação que aquela seria a melhor altura para conquistar Santarém. Zuleiman despeitada por ter sido abandonada por Muhamed, o alcaide de Santarém, queria vingar-se dando aos cristãos as informações que tinha sobre a defesa do castelo. Entretanto, D. Afonso Henriques já tinha enviado o seu cavaleiro Mem Ramires a Santarém para estudar o inimigo e a astúcia e a cautela do cavaleiro foram fulcrais para a decisão do ataque. Conta a lenda que foi na serra dos Albardos que o primeiro rei de Portugal fez a promessa de construir um mosteiro se Deus lhe desse a vitória. Mem Ramires segurou a escada contra as muralhas por onde entraram os soldados e Santarém amanheceu cristã. O mosteiro de Alcobaça foi construído em cumprimento de um voto do primeiro rei de Portugal, sendo juntamente com a Batalha e os Jerónimos uma das jóias mais preciosas do património arquitectónico portuguê
Lenda da Fundação do Mosteiro de Alcobaça
A LENDA DE MARIA FIDALGA
A lenda de Maria Fidalga faz parte da tradição oral portuguesa, ligada ao Monte d'Assaia, no Concelho de Barcelos. A sua história ter-se-ia passado entre o Souto e Fonte Velha, na encosta deste monte, nos séculos XVI ou XVII.
Segundo a lenda, certo fidalgo de Arcos de Valdevez andava intrigado com o desaparecimento do anel de sua mulher, e já lhe nasciam suspeitas sobre a sua fidelidade. Como a fama de Maria Fidalga lá chegara, vem então o fidalgo, acompanhado de um criado preto, em demanda do Monte d'Assaia para deslindar o caso.
Chegado ao Herbatune, é recebido pela bruxa e informado de que só poderia regressar na manhã seguinte, uma vez que ela apenas à meia-noite receberia, do próprio Diabo, a informação desejada.
O fidalgo sujeita-se e a bruxa prepara-lhe dormida e aguarda a meia-noite. Tem então lugar o oráculo. O Diabo informa-a de que o anel está no bucho do «ruço», o porco do fidalgo, mas proíbe-a de lho revelar; a ele, confirmar-lhe-ia as suspeitas sobre a infidelidade da esposa.
Por artes do próprio Diabo, porém, o criado negro, para quem o agasalho contra o frio da noite fora apenas a proximidade da lareira, por uma fresta do tabuado da cozinha, presenciou a entrevista.
Na manhã seguinte, a bruxa comunicou ao fidalgo a tramóia engendrada pelo Diabo. O fidalgo partiu a galope para vingar a afronta. O negro, por sua vez, lançou-se no seu encalço para o prevenir do logro e salvar a ama; depois de muito esforço, conseguiu transmitir-lhe o que escutara. Furibundo, sentenciou o fidalgo:
— Mato o porco, mas mato-te a ti com ela se não encontrar o anel.
O negro confirmou o que ouvira.
Chegados a Valdevez, esventram o porco e aparece o anel. Então o fidalgo regressa ao Assaia. Uma vez aqui, prende Maria Fidalga ao rabo do cavalo e arrasta-a até à morte pelas lajes da encosta. O Diabo traíra a sua aliada.
Segundo a lenda, certo fidalgo de Arcos de Valdevez andava intrigado com o desaparecimento do anel de sua mulher, e já lhe nasciam suspeitas sobre a sua fidelidade. Como a fama de Maria Fidalga lá chegara, vem então o fidalgo, acompanhado de um criado preto, em demanda do Monte d'Assaia para deslindar o caso.
Chegado ao Herbatune, é recebido pela bruxa e informado de que só poderia regressar na manhã seguinte, uma vez que ela apenas à meia-noite receberia, do próprio Diabo, a informação desejada.
O fidalgo sujeita-se e a bruxa prepara-lhe dormida e aguarda a meia-noite. Tem então lugar o oráculo. O Diabo informa-a de que o anel está no bucho do «ruço», o porco do fidalgo, mas proíbe-a de lho revelar; a ele, confirmar-lhe-ia as suspeitas sobre a infidelidade da esposa.
Por artes do próprio Diabo, porém, o criado negro, para quem o agasalho contra o frio da noite fora apenas a proximidade da lareira, por uma fresta do tabuado da cozinha, presenciou a entrevista.
Na manhã seguinte, a bruxa comunicou ao fidalgo a tramóia engendrada pelo Diabo. O fidalgo partiu a galope para vingar a afronta. O negro, por sua vez, lançou-se no seu encalço para o prevenir do logro e salvar a ama; depois de muito esforço, conseguiu transmitir-lhe o que escutara. Furibundo, sentenciou o fidalgo:
— Mato o porco, mas mato-te a ti com ela se não encontrar o anel.
O negro confirmou o que ouvira.
Chegados a Valdevez, esventram o porco e aparece o anel. Então o fidalgo regressa ao Assaia. Uma vez aqui, prende Maria Fidalga ao rabo do cavalo e arrasta-a até à morte pelas lajes da encosta. O Diabo traíra a sua aliada.
A lenda de Geraldo geraldes sem pavor
Geraldo Geraldes, personagem semilendária da história de Portugal à época das lutas da Reconquista, ficou conhecido, já desde o século XII, pelo nome de Geraldo sem Pavor.
Personagem representativa do período de formação das fronteiras de Portugal, acredita-se que fosse um nobre de trato difícil, pelo que muito cedo abandonou o norte de Portugal para tentar a sorte no sul do país, nas lutas contra os Mouros. Nessa qualidade, liderou como um caudilho um bando de salteadores e aventureiros.
Aquando da conquista da região do Alentejo por D. Afonso Henriques e também da Estremadura espanhola, Geraldo Sem Pavor ofereceu-se como voluntário para tomar a cidade de Évora, bem como outras localidades vizinhas. Utilizando como base de operações o castro hoje conhecido como Castelo do Geraldo próximo de Valverde (Nossa Senhora da Tourega) e do qual existem algumas ruínas, introduziu-se nos muros da cidade, executando o governador mouro e entregando a praça ao soberano.
De personalidade imprevisível, foi um dos principais entusiastas da tomada de Badajoz, campanha que, em 1169, viria a se revelar um desastre para as forças de D. Afonso Henriques em geral, e para as do próprio Geraldo em particular, que acabou por perder todas as suas terras excepto as do Castelo de Juromenha.
Afirma a tradição que o espírito aventureiro deste nobre o levou a Ceuta, no Norte d'África, em missão de espionagem a serviço secreto de D. Afonso Henriques, que lhe havia recomendado a tomada daquela praça. Quando a verdadeira finalidade da operação foi descoberta, Geraldo morreu à mãos dos almóadas.
Figura central na iconografia da cidade de Évora, encontra-se representado em posição central no brasão de armas da municipalidade, montado a cavalo e empunhando a espada em riste.
Personagem representativa do período de formação das fronteiras de Portugal, acredita-se que fosse um nobre de trato difícil, pelo que muito cedo abandonou o norte de Portugal para tentar a sorte no sul do país, nas lutas contra os Mouros. Nessa qualidade, liderou como um caudilho um bando de salteadores e aventureiros.
Aquando da conquista da região do Alentejo por D. Afonso Henriques e também da Estremadura espanhola, Geraldo Sem Pavor ofereceu-se como voluntário para tomar a cidade de Évora, bem como outras localidades vizinhas. Utilizando como base de operações o castro hoje conhecido como Castelo do Geraldo próximo de Valverde (Nossa Senhora da Tourega) e do qual existem algumas ruínas, introduziu-se nos muros da cidade, executando o governador mouro e entregando a praça ao soberano.
De personalidade imprevisível, foi um dos principais entusiastas da tomada de Badajoz, campanha que, em 1169, viria a se revelar um desastre para as forças de D. Afonso Henriques em geral, e para as do próprio Geraldo em particular, que acabou por perder todas as suas terras excepto as do Castelo de Juromenha.
Afirma a tradição que o espírito aventureiro deste nobre o levou a Ceuta, no Norte d'África, em missão de espionagem a serviço secreto de D. Afonso Henriques, que lhe havia recomendado a tomada daquela praça. Quando a verdadeira finalidade da operação foi descoberta, Geraldo morreu à mãos dos almóadas.
Figura central na iconografia da cidade de Évora, encontra-se representado em posição central no brasão de armas da municipalidade, montado a cavalo e empunhando a espada em riste.
A LENDA DO GALO DE BARCELOS
A lenda do Galo de Barcelos narra a intervenção milagrosa de um galo morto na prova da inocência de um homem erradamente acusado. Está associada ao cruzeiro seiscentista que faz parte do espólio do Museu Arqueológico, situado no Paço dos Condes de Barcelos.
Segundo a lenda, os habitantes de Barcelos andavam alarmados com um crime, do qual ainda não se tinha descoberto o criminoso que o cometera. Certo dia, apareceu um galego que se tornou suspeito. As autoridades resolveram prendê-lo, apesar dos seus juramentos de inocência, que estava apenas de passagem em peregrinação a Santiago de Compostela, em cumprimento duma promessa.
Condenado à forca, o homem pediu que o levassem à presença do juiz que o condenara. Concedida a autorização, levaram-no à residência do magistrado, que nesse momento se banqueteava com alguns amigos. O galego voltou a afirmar a sua inocência e, perante a incredulidade dos presentes, apontou para um galo assado que estava sobre a mesa e exclamou: "É tão certo eu estar inocente, como certo é esse galo cantar quando me enforcarem."
O juiz empurrou o prato para o lado e ignorou o apelo, mas quando o peregrino estava a ser enforcado, o galo assado ergueu-se na mesa e cantou. Compreendendo o seu erro, o juiz correu para a forca e descobriu que o galego se salvara graças a um nó mal feito. O homem foi imediatamente solto e mandado em paz.
Alguns anos mais tarde, o galego teria voltado a Barcelos para esculpir o Cruzeiro do Senhor do Galo em louvor à Virgem Maria e a São Tiago, monumento que se encontra no Museu Arqueológico de Barcelos. Este também é representado pelo artesanato minhoto, geralmente
Segundo a lenda, os habitantes de Barcelos andavam alarmados com um crime, do qual ainda não se tinha descoberto o criminoso que o cometera. Certo dia, apareceu um galego que se tornou suspeito. As autoridades resolveram prendê-lo, apesar dos seus juramentos de inocência, que estava apenas de passagem em peregrinação a Santiago de Compostela, em cumprimento duma promessa.
Condenado à forca, o homem pediu que o levassem à presença do juiz que o condenara. Concedida a autorização, levaram-no à residência do magistrado, que nesse momento se banqueteava com alguns amigos. O galego voltou a afirmar a sua inocência e, perante a incredulidade dos presentes, apontou para um galo assado que estava sobre a mesa e exclamou: "É tão certo eu estar inocente, como certo é esse galo cantar quando me enforcarem."
O juiz empurrou o prato para o lado e ignorou o apelo, mas quando o peregrino estava a ser enforcado, o galo assado ergueu-se na mesa e cantou. Compreendendo o seu erro, o juiz correu para a forca e descobriu que o galego se salvara graças a um nó mal feito. O homem foi imediatamente solto e mandado em paz.
Alguns anos mais tarde, o galego teria voltado a Barcelos para esculpir o Cruzeiro do Senhor do Galo em louvor à Virgem Maria e a São Tiago, monumento que se encontra no Museu Arqueológico de Barcelos. Este também é representado pelo artesanato minhoto, geralmente
A menina das cebolas
A rapariga tinha sido mandada à feira pela madrasta para vender um cesto de cebolas e uma giga de ovos. Saíra de casa com o cesto à cabeça ainda o sol não tinha nascido. Por várias vezes, ao longo do caminho, os socos derraparam nas pedras escorregadias pela geada. Salvou-a da queda o bom equilíbrio que sempre teve. Deixasse cair o cesto e era certa a tareia da madrasta. Tanto mais que não se vendem cebolas maçadas e ovos muito menos e ela tinha de entregar em casa o dinheiro certinho.
Chegou à feira já o sol ia alto. Quanto mais cedo se chegasse, melhor negócio se fazia. Os preços começavam a baixar com o arrastar da manhã e os mercadores acabavam por vender os últimos produtos a menos de metade do preço, para não terem de regressar a casa com eles.
Passou ao lado da tenda do mercador de caldeirões e corou quando o viu a falar com uma velha que apontava para um caldeirão. Ele era tão bonito, que a rapariga gostava de passar ali só para o ver. O jovem mercador nem para ela olhava. E como poderia ele olhar para uma rapariga tão feia e tão miseravelmente vestida? Mas ela não se importava. A lembrança dele nos dias duros de trabalho e nas noites frias aquecia-lhe o peito e isso bastava-lhe.
Poisou o cesto – ninguém ali à volta se oferecera para a ajudar a descê-lo da cabeça, nem mesmo as conhecidas de outros dias de feira que ao lado apregoavam os produtos – e sentiu-se derreada.
No dia anterior, a madrasta tinha-a mandado retirar o estrume do curral, trabalho que lhe ocupou grande parte do dia. Já na cozinha, quando tinha mais vontade de comer e ir para a cama do que fazer o que quer que fosse, a madrasta ainda a obrigou a fazer a ceia e a preparar o cesto para a feira. Enquanto picava uma cebola para o refogado, chorou e o pai, que acabava de chegar de uma lavrada, perguntou-lhe:
– Por que choras, minha filha?
E ela disse-lhe que por causa da cebola. O pai acreditou e sentou-se junto à lareira a tirar as botas antes de pôr os pés ao fogo. A madrasta, ao lado, cosia uns fundilhos e ali estiveram a fazer sala à espera que o manjar estivesse pronto, enquanto os dois miúdos, seus meio-irmãos, por ali andavam a arranhar-se com gritos e correrias.
Foi muito tarde que a rapariga se foi deitar no quarto das traseiras, depois de ter lavado a loiça, preparar o avental, a saia e a blusa que no dia seguinte vestiria para a feira. Mesmo assim, aos olhos de quem passava, não parecia mais do que uma mendiga, tão remendada estava a saia, tão gasto o avental e tão puída a blusa.
Apesar de todas as desgraças, o negócio corria-lhe bem e no final da manhã tinha vendido quase todos os ovos e boa parte das cebolas. Estava com tanta fome que se atreveu a pegar numa cebola, das mais pequenas. Tirou-lhe as várias camadas de casca e começou a comê-la com um pedacito de pão duro que guardara no bolso do avental. Estava ela de boca cheia, sentindo a acidez da cebola a picar-lhe a língua, quando se aproximou a velha que ela tinha visto a conversar com o jovem mercador. Trazia um caldeirão na mão, parou junto ao cesto e perguntou-lhe pelo preço das cebolas. A rapariga disse-lhe que, como eram as últimas, lhas dava por metade do preço. A velha apalpou uma e comentou:
– Não me parece que durem todo o Inverno. Têm a casca mole.
Piscou o olho direito e acrescentou:
– Se mas deres por metade do preço dessa metade que dizes, talvez as leve.
– Não posso, tiazinha – respondeu a rapariga. – A minha madrasta recomendou-me que não descesse o preço mais do que o justo. Se não lhe entregar o dinheiro certo, ela castiga-me.
– E como sabe ela qual é o dinheiro certo antes de a feira acabar? – perguntou a velha piscando desta vez o olho esquerdo. – É por acaso bruxa?
A rapariga não sabia dizer. As bruxas são más, toda a gente sabe, e se assim fosse, a madrasta era uma bruxa. Mas a rapariga também sabia que as bruxas eram velhas e feias. E então a madrasta já não podia ser bruxa. Foi por ser nova e bonita que o pai, quando ficou viúvo, casou com ela. Mas não sabia explicar como sabia a madrasta o dinheiro que a rapariga lhe deveria entregar.
– Talvez – sugeriu a velha – ela não saiba, mas diz que sabe para tu ficares com medo e não te deixares enganar pelos clientes ou não gastares o dinheiro mal gasto.
E pôs-se a matutar. Bem que as cebolas valiam o dinheiro que a rapariga pedia. Mas ela não tinha moedas suficientes. Foi então que lhe surgiu uma ideia:
– Dás-me as cebolas pelo meu preço e não precisarás mais de te preocupar com a tua madrasta, que deve ser uma mulher bem mais malvada do que eu.
A rapariga não percebeu bem a fala da velha do caldeirão. Mas porque lhe pareceu que a velha era atrasadinha, coitada, deu-lhe as cebolas ao preço que ela estava disposta a pagar. A velha meteu as cebolas no caldeirão e foi-se embora muito satisfeita depois de ter dito como despedida:
Eu te fado bem fadada
Para que sejas bem casada.
A rapariga guardou as moedas no bolso do avental, acabou de comer a cebola e o pão, ajeitou o cesto na cabeça, agora bem mais leve e preparou-se para abandonar a feira. Passou na tenda do mercador dos caldeirões e, como sempre fazia, olhou para lá de relance. Estava estranhamente abandonada, com os caldeirões brilhando ao sol sem ninguém que os guardasse. A rapariga aproximou-se, poisou o cesto e pôs-se a observar a tenda. Ali perto havia um charco e ela ouviu um coaxar. Junto à água estava um enorme sapo, tão grande como ela nunca vira. A maneira como o bicho coaxava parecia dizer: Beija-me, beija-me, mas dito pelo nariz. Ela pôs-lhe a mão e sentiu-lhe o dorso viscoso. Se fosse outra, sentiria nojo e fugiria dali a cuspir. Mas a rapariga estava habituada a coisas bem mais nojentas que a madrasta a obrigava a faze– Estás aqui sozinho? Coitadinho! – disse ela.
E o sapo coaxava: Beija-me, beija-me. Ela pegou nele em ambas as mãos, como se pegasse numa flor, passou-lhe os lábios pela cabecita sem pescoço e, sem que ela percebesse como, viu-se ao colo do jovem mercador de caldeirões. Ele sorriu e retribuiu-lhe o beijo. Depois disse:
– És a rapariga mais bela deste reino. E porque me salvaste, farei de ti a rainha dos caldeirões.
A Lenda da Dama do Pé-de-Cabra
A Lenda da Dama do Pé-de-Cabra é uma conhecida lenda de Portugal.
Foi compilada por Alexandre Herculano no livro Lendas e Narrativas. Existe ainda uma outra versão da lenda, escrita em inglês pelo Visconde de Figanière no seu poema em cinco cantos Elva: a story of the dark ages (Londres, 1878).
Lenda 1D. Diogo Lopes, nobre senhor da Biscaia, caçava nos seus domínios, quando foi surpreendido por uma linda mulher que cantava. Ofereceu-lhe o seu coração, as suas terras e os seus vassalos se com ele se casasse. A dama impôs-lhe como única condição a de ele nunca mais se benzer. Mais tarde, no seu castelo, D. Diogo apercebeu-se que a dama tinha um pé forcado como o de uma cabra. Viveram muitos anos felizes e tiveram dois filhos: Inigo Guerra e Dona Sol.
Foi compilada por Alexandre Herculano no livro Lendas e Narrativas. Existe ainda uma outra versão da lenda, escrita em inglês pelo Visconde de Figanière no seu poema em cinco cantos Elva: a story of the dark ages (Londres, 1878).
Um dia, depois de uma boa caçada, D. Diogo premiou o seu grande alão com um grande osso, mas a podenga preta de sua mulher matou o cão para se apoderar do pedaço de javali. Surpreendido com tal violência, D. Diogo benzeu-se. A Dama de Pé de Cabra deu um grito e começou a elevar-se no ar, com a sua filha Dona Sol, saindo ambas por uma janela para nunca mais serem vistas.A partir daí, foi confessar e o pajem disse que estava excomungado, sua penitencia foi guerrear os mouros por tantos anos quanto vivera em pecado, tendo ficado cativo em Toledo. Sem saber como resgatar o pai, D. Inigo resolveu procurar a mãe que se tornara, segundo uns, numa fada, segundo outros, numa alma penada.
A Dama de Pé de Cabra decidiu ajudar o filho, dando-lhe um onagro, uma espécie de cavalo selvagem, que o transportou a Toledo. Aí, o onagro abriu a porta da cela com um coice e pai e filho cavalgaram em fuga, mas, no caminho, encontraram um cruzeiro de pedra que fez o animal estacar. A voz da Dama de Pé de Cabra instruiu o onagro para evitar a cruz. Ao ouvir aquela voz, depois de tantos anos e sem saber da aliança do filho com a mãe, D. Diogo benzeu-se, o que fez com que o onagro os cuspisse da cela, a terra tremesse e abrisse, deixando ver o fogo do Inferno, que engoliu o animal. Com o susto, pai e filho desmaiaram. D. Diogo, nos poucos anos que ainda viveu, ia todos os dias à missa e todas as semanas se confessava. D. Inigo nunca mais entrou numa igreja e crê-se que tinha um pacto com o Diabo, pois, a partir de então, não havia batalha que não vencesse.
HISTÓRIA DO GRÃO DE MILHO
ERA UMA VEZ uns casados e não tinham filhos. A mulher tanto pediu a Nossa Senhora que lhe desse um filho, ainda que fosse do tamanho de um greiro de milho, que ao fim de nove meses ela pariu um filho, mas tão pequeno, tão pequeno, que era mesmo do tamanho de um greiro de milho. Foi-se passando tempo e o pequeno não crescia nada, de sorte que ficou sempre do mesmo tamanho.
O pai era lavrador e, quando andava a trabalhar no campo, era o Grão-de-Milho que lhe ia levar o jantar numa cesta; mas, como era tão pequeno, ninguém o via o que fazia correr aquela cesta pela rua abaixo. O pai recomendava-lhe que não se chegasse para o pé dos bois, mas uma vez que ele tinha ido levar o jantar ao pai, a brincar trepou para cima de uma folha de milho e um dos bois, pensando que era um greiro de milho, lambeu-o com a língua. O pai quando quis voltar para casa, por mais que o procurasse não deu com ele, mas tanto chamou que por fim ouviu responder que o boi o tinha comido e estava dentro da tripa. O pai ficou muito aflito e matou logo ali o boi e começou a procurá-lo nas tripas, mas por mais que procurasse não o encontrou, até que deixou ficar tripas e tudo. De noite um lobo, atraído pelo cheiro da carne, veio e comeu as tripas do boi, e deitou a fugir. O lobo teve umas grandes dores de barriga e o Grão-de-Milho começou a gritar-lhe: "C... aí, c... aí!" Mas o lobo, ouvindo isto teve tanto medo que mais fugia e não podia obrar. O Grão-de-Milho continuava a gritar: "C... aí, c... aí!", até que o lobo tão atrapalhado se viu que fez as suas necessidades.
O Grão-de-Milho logo que saiu para fora, lavou-se muito bem lavado numa pocinha que ali estava e foi por ali fora. No meio caminho encontrou uns almocreves que levavam os machos carregados de dinheiro e disse-lhes.
De repente, saltam uns ladrões, matam os almocreves e levam os machos com o dinheiro para uma casa que havia nuns pinherais. O Grão-de-Milho, como ia medito numa alforges, foi também sem ser pescado. Os ladrões despejaram o finheiro em cima de uma grande mesa e começaram a contá-lo. O Grão-de-Milho pôs-se debaixo da mesa e começou a gritar: "Quem dá dé-reis, quem dá dé-reis!" Os ladrões, assim que ouviram isto, tiveram tanto medo que deitaram a fugir. Então o Grão-de-Milho ensacou o dinheiro, pô-lo em cima dos machos e foi para casa.
Quando lá chegou, era ainda de noite e bateu à porta. O pai perguntou: "Quem está aí?" e ele respondeu: "Sou eu, meu pai; abra depressa." O pai veio logo abrir a porta e o Grão-de-Milho contou-lhe então tudo, entregou-lhe os machos e o dinheiro e o lavrador, que era pobre, ficou muito rico.
O pai era lavrador e, quando andava a trabalhar no campo, era o Grão-de-Milho que lhe ia levar o jantar numa cesta; mas, como era tão pequeno, ninguém o via o que fazia correr aquela cesta pela rua abaixo. O pai recomendava-lhe que não se chegasse para o pé dos bois, mas uma vez que ele tinha ido levar o jantar ao pai, a brincar trepou para cima de uma folha de milho e um dos bois, pensando que era um greiro de milho, lambeu-o com a língua. O pai quando quis voltar para casa, por mais que o procurasse não deu com ele, mas tanto chamou que por fim ouviu responder que o boi o tinha comido e estava dentro da tripa. O pai ficou muito aflito e matou logo ali o boi e começou a procurá-lo nas tripas, mas por mais que procurasse não o encontrou, até que deixou ficar tripas e tudo. De noite um lobo, atraído pelo cheiro da carne, veio e comeu as tripas do boi, e deitou a fugir. O lobo teve umas grandes dores de barriga e o Grão-de-Milho começou a gritar-lhe: "C... aí, c... aí!" Mas o lobo, ouvindo isto teve tanto medo que mais fugia e não podia obrar. O Grão-de-Milho continuava a gritar: "C... aí, c... aí!", até que o lobo tão atrapalhado se viu que fez as suas necessidades.
O Grão-de-Milho logo que saiu para fora, lavou-se muito bem lavado numa pocinha que ali estava e foi por ali fora. No meio caminho encontrou uns almocreves que levavam os machos carregados de dinheiro e disse-lhes.
De repente, saltam uns ladrões, matam os almocreves e levam os machos com o dinheiro para uma casa que havia nuns pinherais. O Grão-de-Milho, como ia medito numa alforges, foi também sem ser pescado. Os ladrões despejaram o finheiro em cima de uma grande mesa e começaram a contá-lo. O Grão-de-Milho pôs-se debaixo da mesa e começou a gritar: "Quem dá dé-reis, quem dá dé-reis!" Os ladrões, assim que ouviram isto, tiveram tanto medo que deitaram a fugir. Então o Grão-de-Milho ensacou o dinheiro, pô-lo em cima dos machos e foi para casa.
Quando lá chegou, era ainda de noite e bateu à porta. O pai perguntou: "Quem está aí?" e ele respondeu: "Sou eu, meu pai; abra depressa." O pai veio logo abrir a porta e o Grão-de-Milho contou-lhe então tudo, entregou-lhe os machos e o dinheiro e o lavrador, que era pobre, ficou muito rico.
quarta-feira, 22 de maio de 2013
Lendas para a Carolina
Lenda do Milagre das Rosas
Esta é uma das mais conhecidas lendas portuguesas que enaltece a bondade da rainha D. Isabel para com todos os seus súbditos, a quem levava esmolas e palavras de consolo. Conta a história que um nobre despeitado informou o rei D. Dinis que a rainha gastava demais nas obras das igrejas, doações a conventos, esmolas e outras acções de caridade e convenceu-o a por fim a estes excessos. O rei decidiu surpreender a rainha numa manhã em que esta se dirigia com o seu séquito às obras de Santa Clara e à distribuição habitual de esmolas e reparou que ela procurava disfarçar o que levava no regaço. Interrogada por D. Dinis, a rainha informou que ia ornamentar os altares do mosteiro ao que o rei insistiu que tinha sido informado que a rainha tinha desobedecido às suas proibições, levando dinheiro aos pobres. De repente e mais confiante D. Isabel respondeu: "Enganais-vos, Real Senhor. O que levo no meu regaço são rosas..." O rei irritado acusou-a de estar a mentir: como poderia ela ter rosas em Janeiro? Obrigou-a, então, a revelar o conteúdo do regaço. A rainha Isabel mostrou perante os olhos espantados de todos o belíssimo ramo de rosas que guardava sob o manto. O rei ficou sem palavras, convencido que estava perante um fenómeno sobrenatural e acabou por pedir perdão à rainha que prosseguiu na sua intenção de ir levar as esmolas. A notícia do milagre correu a cidade de Coimbra e o povo proclamou santa a rainha Isabel de Portugal.
A Raiva do Alva
A localidade de Pombeiro da Beira tem na sua história uma disputa entre três rios, o Mondego, o Alva e o Zêzere, todos nascidos na Serra da Estrela. Estes três rios envolveram-se um dia numa grande discussão sobre quem seria o mais valente e acertaram numa corrida que esclareceria a questão: quem chegasse primeiro ao mar seria o vencedor. O Mondego levantou-se cedo e começou a deslizar silenciosamente para não atrair as atenções. Passou pela Guarda e pelas regiões de Celorico, Gouveia, Manteigas, Canas de Senhorim e pela Raiva, onde se fortaleceu junto dos ribeiros seus primos, chegando por fim a Coimbra. O Zêzere, que estava atento, saiu ao mesmo tempo que o seu irmão. Oculto, por entre os penhascos, foi direito a Manteigas, passou a Guarda e o Fundão, mas logo depois se desnorteou e, cansado, veio a perder-se nas águas do Tejo. O Alva passou a noite a contar as estrelas, perdido em divagações de sonhador e poeta. Quando acordou, era já muito tarde mas ainda a tempo de avistar os seus irmãos ao longe. Tempestuoso, rompeu montes e rochedos, atravessou penhascos e vales, mas quando pensava que tinha vencido deparou com o Mondego, no momento que este já adiantado chegava ao mar. O Alva ainda tentou expulsar o seu irmão do leito, debatendo-se com fúria e espumando de raiva, mas o Mondego engoliu-o com o seu ar altivo e irónico. Este lugar onde os dois rios lutaram ficou para sempre conhecido como Raiva, em memória da contenda entre os dois irmãos.
A localidade de Pombeiro da Beira tem na sua história uma disputa entre três rios, o Mondego, o Alva e o Zêzere, todos nascidos na Serra da Estrela. Estes três rios envolveram-se um dia numa grande discussão sobre quem seria o mais valente e acertaram numa corrida que esclareceria a questão: quem chegasse primeiro ao mar seria o vencedor. O Mondego levantou-se cedo e começou a deslizar silenciosamente para não atrair as atenções. Passou pela Guarda e pelas regiões de Celorico, Gouveia, Manteigas, Canas de Senhorim e pela Raiva, onde se fortaleceu junto dos ribeiros seus primos, chegando por fim a Coimbra. O Zêzere, que estava atento, saiu ao mesmo tempo que o seu irmão. Oculto, por entre os penhascos, foi direito a Manteigas, passou a Guarda e o Fundão, mas logo depois se desnorteou e, cansado, veio a perder-se nas águas do Tejo. O Alva passou a noite a contar as estrelas, perdido em divagações de sonhador e poeta. Quando acordou, era já muito tarde mas ainda a tempo de avistar os seus irmãos ao longe. Tempestuoso, rompeu montes e rochedos, atravessou penhascos e vales, mas quando pensava que tinha vencido deparou com o Mondego, no momento que este já adiantado chegava ao mar. O Alva ainda tentou expulsar o seu irmão do leito, debatendo-se com fúria e espumando de raiva, mas o Mondego engoliu-o com o seu ar altivo e irónico. Este lugar onde os dois rios lutaram ficou para sempre conhecido como Raiva, em memória da contenda entre os dois irmãos.
Os Ferreiros de Penela
Muito perto de Penela existem dois montes elevados, em forma de cone, que a lenda diz terem sido habitados por dois irmãos ferreiros, Melo e Jerumelo. Estando cada um em seu monte com a sua respectiva forja, possuíam apenas um martelo do qual se serviam alternadamente. A distância entre o topo dos dois montes era curta, assim de dois quilómetros mais ou menos, e os dois irmãos atiravam o martelo um ao outro quando dele precisavam. Decerto que já perceberam que estes irmãos eram gigantes porque de outro modo não teriam força para atirar o martelo. Um dia, Jerumelo zangou-se com o irmão e atirou-lhe o malho com tanta força que este se desconjuntou, caindo o ferro na encosta do monte Melo com tanta força que lhe fez brotar uma fonte de água férrea. O cabo de madeira de zambujo foi espetar-se na terra a dois quilómetros de distância, fazendo nascer um zambujo, que veio dar o nome à povoação de Zambujal. A prova de que esta história tem um fundo verdadeiro está nas ruínas da forja do irmão Melo, que ainda hoje se encontram no cimo do monte com o mesmo nome.
Os Degolados de Montemor-o-Velho
Esta lenda aconteceu em tempos muito antigos, quando, em 848, Montemor-o-Velho foi reconquistada aos Mouros pelo rei Ramiro de Leão. Depois da batalha, o monarca de Leão resolveu visitar um seu parente, o abade D. João, que vivia no Mosteiro de Lorvão. Quando lá chegou verificou que o Mosteiro estava em ruínas e que os frades viviam na mais completa miséria, cheios de fome e de frio, devido às guerras constantes que devastavam a região. Querendo beneficiar os religiosos, doou-lhes as rendas de Montemor e alguns campos em redor da vila, com a condição de no Mosteiro ficarem alguns monges-guerreiros para defesa da vila. Passado algum tempo, os mouros voltaram a atacar e cercaram Montemor durante muito tempo, começando os bens a escassear. Com a ameaça de uma rendição forçada e temendo os ultrajes que seriam feitos aos velhos, às mulheres e às crianças, cada homem reuniu a família e, encomendando as suas almas a Deus, degolou todos os seus membros, um a um, com o coração dilacerado. Após este acto sangrento prepararam-se para a derradeira batalha, no exterior da fortaleza, na qual tinham a certeza de morrer. Mas, para grande surpresa de todos e talvez porque extinta a família já não tinham nada a perder, os cristãos lutaram sem medo e venceram esta batalha. Desolados, os homens choraram a vitória pelo sacrifício inútil das suas famílias mas, quando se aproximavam das portas da fortaleza gritos de alegria ecoaram no ar. Aguardavam-nos vivos os parentes que antes tinham sido degolados e este grande milagre ficou para sempre na memória do povo português através da lenda dos Degolados de Montemor-o-Velho.
As Arcas de Montemor
Já diziam os antigos que no castelo de Montemor-o-Velho estão enterradas duas arcas, uma cheia de ouro e a outra cheia de peste. A sua origem remonta ao tempo dos Mouros quando era alcaide naquela cidade um viúvo austero que tinha uma única filha, a quem guardava longe dos olhos de todos como se fosse o maior tesouro do mundo. Um dia, quando a jovem era já uma mulher, um dos seus fiéis cavaleiros apaixonou-se por ela mas o alcaide nem queria ouvir falar de tal possibilidade. Quando o cavaleiro insistiu, o alcaide resolveu prendê-lo e condenou-o à morte. Quando a jovem soube da tragédia em que involuntariamente estava envolvida, ainda tentou interceder mas o pai permaneceu insensível às suas súplicas. A jovem que até então não fazia ideia do grande amor que o cavaleiro lhe dedicava, resolveu visitá-lo em segredo nas masmorras. Este amor devia estar já talhado no livro do destino, pois a jovem logo se apaixonou pelo cavaleiro e ambos fugiram do castelo.
A sua captura foi fácil e quando foram levados perante o irascível alcaide, este ainda ficou mais furioso quando soube que a sua filha tinha casado com o cavaleiro. Então, por vingança, resolveu dar-lhes uma prenda maldita: duas arcas, uma com ouro e a outra com peste. Os jovens que prezavam mais a sua vida e o seu amor que todo o ouro do mundo fugiram do louco alcaide, deixando para trás as duas arcas que nunca ninguém ousou abrir e que ainda hoje estão enterradas nas muralhas do castelo de Montemor-o-Velho.
Lenda do Mouro do Cabril
Beatriz era uma jovem camponesa que todos os dias pastoreava o seu rebanho junto da ribeira do Cabril. Muito bonita, era disputada pelos jovens do lugar. Talvez fosse por isso que ainda não se tinha decidido por nenhum, ou talvez por influência das histórias de pastoras e príncipes encantados que a avó lhe contava. Um dia junto à ribeira foi surpreendida por um príncipe encantado que a vinha buscar para a levar para o seu palácio de onde nunca mais sairia. O encanto seria quebrado quando Beatriz tivesse um primeiro filho. Beatriz seguiu o seu sonho e nunca mais voltou a casa. As mulheres diziam que decerto tinha sido o mouro do Cabril que a tinha levado. Tinha fama de belo, poderoso e conquistador e noutros tempos já tinha levado uma rapariga tão bela como Beatriz. Passados anos, a mãe de Beatriz recebeu a visita do mouro que lhe pediu para ajudar Beatriz a ter o seu filho. A mãe seguiu o mouro até ao palácio encantado, prometendo sigilo contra a garantia de que o seu neto seria um homem livre. A mãe de Beatriz visitou-a durante anos em segredo, até que um dia em que estava marcada uma visita o seu marido a obrigou a acompanhá-lo a uma feira numa terra vizinha. Contrariada, seguiu-o, e lá, por entre a multidão, encontrou o mouro com o seu neto ao colo. Sem se conter, deu-lhe um recado para Beatriz na presença de todos. O mouro e a criança desapareceram em fumo. A mãe de Beatriz ficou louca para sempre por causa, dizem, do desaparecimento da filha levada pelo mouro encantado do Cabril.
Beatriz era uma jovem camponesa que todos os dias pastoreava o seu rebanho junto da ribeira do Cabril. Muito bonita, era disputada pelos jovens do lugar. Talvez fosse por isso que ainda não se tinha decidido por nenhum, ou talvez por influência das histórias de pastoras e príncipes encantados que a avó lhe contava. Um dia junto à ribeira foi surpreendida por um príncipe encantado que a vinha buscar para a levar para o seu palácio de onde nunca mais sairia. O encanto seria quebrado quando Beatriz tivesse um primeiro filho. Beatriz seguiu o seu sonho e nunca mais voltou a casa. As mulheres diziam que decerto tinha sido o mouro do Cabril que a tinha levado. Tinha fama de belo, poderoso e conquistador e noutros tempos já tinha levado uma rapariga tão bela como Beatriz. Passados anos, a mãe de Beatriz recebeu a visita do mouro que lhe pediu para ajudar Beatriz a ter o seu filho. A mãe seguiu o mouro até ao palácio encantado, prometendo sigilo contra a garantia de que o seu neto seria um homem livre. A mãe de Beatriz visitou-a durante anos em segredo, até que um dia em que estava marcada uma visita o seu marido a obrigou a acompanhá-lo a uma feira numa terra vizinha. Contrariada, seguiu-o, e lá, por entre a multidão, encontrou o mouro com o seu neto ao colo. Sem se conter, deu-lhe um recado para Beatriz na presença de todos. O mouro e a criança desapareceram em fumo. A mãe de Beatriz ficou louca para sempre por causa, dizem, do desaparecimento da filha levada pelo mouro encantado do Cabril.
terça-feira, 17 de janeiro de 2012
Lenda da Concha do mar
Lenda da concha do mar Apareceram muitas conchas de bivalves, que a gentes antigas da Feira comiam do mar, quer dizer, aqui a alimentação era em grande parte marítima, o que confirma inteiramente a ideia de que no antigo recorte do litoral da terra que depois veio a ser Portugal o mar penetrava profundamente. É muito possível que chegasse ao sopé do monte onde se ergueu, primeiro a cividade, ou fortaleza, ou o castro da Feira. Castro que depois foi castelo, castelo que depois foi palácio e que hoje é monumento nacional, mas que inicialmente era um ponto onde o mar se aproximava com as marés cheias. Na terra há uma lenda antiquíssima, transmitido de geração em geração. As pessoas idosas recordam, que os avós, já lhes diziam, um dito popular que ficou na memória colectiva do povo feirense, “que o mar já esteve na Feira, e cá há-de voltar para levar uma conchinha que cá deixou, depositada por alguém do outro mundo num bauzinho de madrepérola!”. Esta lenda é contada para demonstrar a pequenez humana perante os elementos da natureza. Isto pode ser uma reminiscência do tempo em que o mar realmente chegava à Feira, aonde os locais o viam como força divina. Mas também pode ser uma espécie de profecia de que o mar há-de voltar para levar uma conchinha que lá deixou – “não se deve deixar coisas importantes para trás, independentemente do seu tamanho”. Ela representa uma visão e uma forma de vivência baseada em códigos em que a Mãe-natureza dita sobre a vida ou a morte. Por vezes parece-nos que as profecias catastróficas podem-se concretizar, pela maneira como o clima está a mudar, infelizmente. O mar está a subir de nível e se ele sobe meia dúzia de metros volta a chegar à Feira, à colina do castelo, onde tem depositado a preciosidade que tanta geração protelou. Dá a impressão que o castelo dominava sobre uma vasta região marítima, e estas colinas emergiam, como ilhotas, onde viviam povoados castrejos que dependiam, também da pesca. Se olharmos na direcção do mar, vemos uma imensa planície que, sempre baixa, acaba na praia de Espinho, porque o mar fica perto, as terras são de aluvião e arenosas. Bem perto da Feira há um sítio que se chama “as marinhas”, quer dizer que havia ali poças de água do mar, para se obter o sal, e é muito possível que o início do Castelo da Feira tenha sido isso.Na actualidade, no fundo do castelo e dos terrenos à volta, aparece o rio Cáster que desce, vagarosamente, para a Barrinha de Esmoriz, quer dizer, que está quase ao nível do mar. Portanto, o tal ditado “o mar já cá esteve e há-de voltar para levar uma conchinha que cá deixou” pode bem ser uma profecia que oxalá não aconteça.
segunda-feira, 24 de outubro de 2011
A batata teve origem nas regiões montanhosas da América do Sul. Os investigadores pensam que as batatas foram cultivadas pelos índios que viviam nessas áreas há entre 4.000 e 7.000 anos. A batata tornou-se um alimento básico para estas pessoas.As batatas foram trazidas para a Europa pelos exploradores espanhóis que as "descobriram " na América do Sul no início do século XVI. Visto que as batatas são boas fontes de vitamina C, foram posteriormente utilizadas em navios espanhóis para evitar o escorbuto. Elas foram introduzidos na Europa através da Espanha, e enquanto que as batatas foram consumidas por algumas pessoas na Itália e na Alemanha, não eram amplamente consumidas em toda a Europa. Hoje, este outrora infame vegetal é um dos mais populares em todo o mundo. Actualmente, os principais produtores de batata incluem a Russia, Polónia, Índia, China e Estados Unidos.
A moura encantada do castelo da Feira
Houve em tempos uma moura linda e dócil, que se apaixonou por um nobre cavaleiro português. Diz-se que foi durante uma viagem de Coimbra para a Feira que os mouros foram atacados de surpresa pelas forças militares de Henrique de Borgonha, Conde de Portucale (pai de D. Afonso Henriques), que tentava expulsar os mouros dos seus domínios. Neste tempo o castelo da Feira era controlado por um mouro, Almansor. Como se tratava de uma princesa moura prometida ao Emir da Feira, vinha a acompanhá-la um séquito de aias e enxoval protegida por uma pequena guarnição militar, o que os fez ser tomados como reféns. O jovem cavaleiro e a prometida princesa tiveram uma atrcção fatal. Este como era da máxima confiança do rei, ficou encarregue da guarda pessoal da princesa e suas aias. Como se tratava de uma personalidade importante para futuro negócio de troca de prisioneiros, logo o rei católico mandou um emissário ao castelo da Feira para dar a conhecer o sequestro da princesa moura. Furioso o Emir mandou matar 10 prisioneiros portugueses e ele mesmo matou o emissário. Tinha esperado o tempo até que a menina tivesse os 14 anos para puder casar. Com o tempo o Emir foi arquitectando a forma de negociar a devolução da sua futura esposa. Durante um ano fizera duas incursões militares ao castelo de Gaia, onde estaria a princesa enclausurada, mas não conseguira vencer. Então desesperado negoceia uma avultada soma de dinheiro e de todos os prisioneiros católicos que tinha. Durante esse tempo, os amantes sentiam-se cada vez mais apaixonados, quando o Conde deu a notícia ao seu cavaleiro de confiança, que a princesa iria ser libertada, ficou desesperado e desertou sem dar notícia. A princesa lá foi libertada. Quando viu o seu futuro marido, parece que viu um fantasma de tão feio e velho que era. Sentia-se infeliz enquanto decorria os preparativos para o casamento.Adoeceu de tal forma que passou a não ter forças para se levantar da cama.Entretanto durante uma noite de lua cheia, a princesa tinha vindo ao postigo dos seus aposentos, a chorar, olhava na direcção, onde outrora fora feliz e estava o castelo do inimigo, lugar onde vivia o seu apaixonado. Sonhava que ele haveria de voltar, quando de repente do lado exterior do castelo uma voz chamou-a. Reconheceu-a e saltou da cama com robe de seda, desceu a Torre de Menagem e ficou a falar até muito tarde, através das ameias das defesas do castelo com ele. Combinaram a maneira de poderem fugir no dia do casamento pela porta da traição, enquanto os convivas confraternizavam, a aia de confiança subornava o guarda, seu conhecido, para mais tarde, a princesa, fingindo má disposição, iria fugir com ele.Na manhã seguinte iniciava-se os preparativos para o casamento e ela parecia, finalmente, feliz. Tudo decorria como o planeado, quando o Emir desconfiado, pede secretamente ao seu guarda pessoal, para reforçar a guarda. Sem saber do sucedido a princesa começou a colocar o seu plano em acção, mas assim que chegou perto da porta da traição um reforço de guarda apanha o seu amante que é levado ao Emir e que de imediato o degola, tendo a princesa assistido a tudo. Desesperada com este acto, a princesa agarra na cabeça do seu amado e atirasse para o poço do Castelo da Feira, morrendo de imediato. Nasceu a Lenda da Moura Encantada Diz-se que a partir daí toda a desgraça caiu sobre os mouros. Em pouco tempo lançou-se o boato que o Castelo estava amaldiçoado. Aproveitando essa situação, Henrique de Borgonha organiza um assalto ao Castelo com os antigos prisioneiros e mata todos os mouros, tomando de vez o castelo. Mas sempre que havia lua cheia a Moura Encantada aparecia de robe branco florescente e com a cabeça do seu amado debaixo do braço. Quem a olhasse nos olhos caía fulminado
terça-feira, 18 de outubro de 2011
domingo, 19 de dezembro de 2010
dalai lama
Quando aprendemos a usar a inteligência e a bondade ou o afecto em conjunto,todos os actos humanos passam a ser construtivos.
Se o teu coração é absoluto e sincero , sentir-te ás satisfeito e confiante , não terás medo dos outros.
Só existem dois dias no ano que não se pode fazer nada da vida, o ontem e o amanhã, porque hoje é o dia perfeito para fazer algo pela vida.
Sê a mudança que queres ver no mundo.
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